Pular para o conteúdo principal

Negar a Vida da Alma é Bíblico?


1 Introdução
Ao longo dos anos da minha vida cristã percebi que a expressão “Negar a Vida da Alma” é utilizada em muitas situações como uma anulação da vontade humana ou aniquilação da personalidade, e até mesmo negação desta última, alegando de forma simplista que a alma/personalidade humana não serve para a edificação da igreja. Devido ter notado a compreensão errônea acerca da referida expressão empregada por vários santos, fui motivado a mergulhar na palavra de Deus sobre o assunto e extrair as riquezas derivadas desta garimpagem na palavra. Vamos entrar agora na comunhão acerca do verdadeiro significado de uma terminologia que não é bíblica, contudo, o fato de não ser escritural não significa que não possua valor espiritual hoje na vida de cristãos do mundo inteiro. Destarte, vamos perceber nesta comunhão a realidade espiritual que podemos extrair do referido termo, pois embora não seja um termo bíblico a realidade espiritual expressa através da referida expressão é escritural.



2 As Três Partes do Homem: A Personalidade
O homem possui três partes importantes, que são o corpo, espírito e alma “O mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma, e corpo, sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Ts 5:23). O corpo físico é a parte mais exterior dos seres humanos, onde é possível contatar o mundo físico, ele possui várias necessidades próprias da natureza humana e é com ele que servimos a Deus “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixões de Deus, que apresenteis os vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso serviço racional” (Rm 12:1) – Versão Restauração; e precisamos cuidar muito bem dele porque o corpo humano é santuário do Espírito Santo “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (1 Co 6:19-20) – Versão Restauração; “Assim também os maridos devem amar a sua esposa, como a seu próprio corpo; quem ama a sua esposa, ama a si mesmo. Pois ninguém jamais odiou a própria carne; pelo contrário, nutri-a e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja” (Ef 5:28-29) – Versão Restauração. Por isso, neste contexto, devemos amar a nós mesmo, na medida em que devemos amar o nosso corpo, pois é santuário do Espírito Santo!

O espírito humano foi formado dentro do homem pelo próprio Deus “(...) Fala o Senhor, o que estende o céu, fundou a terra e que formou o espírito do homem dentro nele” (Zc 12:1); e é um elemento usado para contatarmos a Deus e adorarmos a sua pessoa, pois “Deus é Espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:24); “Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas orarei também com a mente; cantarei com o espírito, mas cantarei também com a mente” (1Co 14:15) – Versão Restauração. Claramente, observamos nestes versículos que a mente deve ser exercitada! Assim como podemos orar e cantar com o espírito, podemos orar e cantar com a com a mente.

A mente é o componente da alma com o qual pensamos “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb 2:14); este último versículo demonstra claramente que existe diferença entre alma e espírito. Devido ao pecado a mente está vulnerável a corrupção “(...) Porque, tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas” (Tt 1:15); os pensamentos humanos devem conter virtudes retas encontradas também no próprio Deus como verdade, respeito, justiça, pureza, amor, boa fama “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai (Fp 4:8); e o Senhor ainda nos diz para pensarmos “nas coisas lá do alto não nas que são daqui da terra” (Cl 3:2); devido ao pecado a mente está sujeita a corrupção, contudo, o Senhor diz para não nos conformarmos com este século (ou era), mas para transformar-nos pela renovação de nossas mentes, pois, somente através da renovação da mente é que podemos experimentar qual é a boa, perfeita e agradável vontade de Deus (Rm 12: 2), por isso, precisamos que a paz de Deus guarde as nossas mentes (Fp 4:7). É na mente que estão as lembranças ou recordações (2 Pe 3:1-2); e por não entender a chamada língua estranha falada por alguns irmãos a mente pode ficar infrutífera (1 Co 14:14). Todos nós podemos e devemos usar as nossas mentes! Os únicos seres humanos que não usam a mente são os anencéfalos, e isto porque nascem sem cérebro (ou parcialmente sem cérebro), todavia até mesmo as pessoas esquizofrênicas (doentes mentais) usam a mente! Afinal de contas é com a mente que também oramos e cantamos “Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas orarei também com a mente; cantarei com o espírito, mas cantarei também com a mente” (1Co 14:15) – Versão Restauração. A grande questão é que nós cristãos devemos andar e viver no Espírito (Gl 5:16,25), e para isto é necessário pôr a nossa mente no Espírito: “Pois a mente posta na carne é morte, mas a mente posta no espírito é vida e paz” (Rm 8:6) – Versão Restauração.

A emoção é expressa na alma humana através da alegria, tristeza, choro, pavor, frustração, o próprio Senhor Jesus teve várias das expressões emocionais como, por exemplo, na circunstância em que Ele chorou “Jesus chorou” pela condição de incredulidade das pessoas a sua volta por não conceberem no poder que Ele tem de ressuscitar Lázaro (Jo 10:35). E expressou a sua agonia em Lc 22:42-46 quando pediu para o Pai não permitir que ele passasse por este momento que estava lhe levando a tristeza ao ponto de suar sangue (momentos que antecederam a sua morte).

A vontade (I Ts 5:23) está relacionada com o desejo do ser humano, a necessidade intrínseca de obter, atingir ou alcançar um objetivo, de maneira consciente ou não. Portanto, está relacionado ao processo decisório, ao “livre arbítrio” (Dt 28), em que o indivíduo opta pelas escolhas possíveis de fazer ou não fazer alguma coisa; ou ao ato de julgar, opinar, ou sugerir. A resolução de qualquer assunto geralmente depende da vontade. O homem foi criado por Deus com mente vontade e emoção, que dão a “cor necessária a personalidade”, e são a própria personalidade humana. O homem possui três partes importantes, que são o espírito, a alma e o corpo.

A alma humana contém a personalidade, e é através da personalidade que os seres humanos se expressam, esta expressão se manifesta por meio da mente, emoção e vontade. A personalidade é o canal que Deus expressa a sua vontade, a sua vida, a sua pessoa, de forma que a pessoa de Cristo seja manifesta SEM ANULAR QUEM SOMOS! Pois o objetivo de Deus não é destruir a personalidade humana, mas ser glorificado por pessoas que vivem pelos princípios de Cristo através da vida de Deus. 


3 Se alguém quer...
No livro de Mateus, capítulo 16, versículo 24, encontra-se o excerto bíblico mais apregoado sobre o termo “Negar a Vida da Alma”, em que o Senhor diz “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”. Observem que o versículo começa com “querer” ir até o Senhor, ou seja, com “a vontade humana” possuindo a opção de decidir ir até o Senhor Jesus ou não, indicada pela conjunção condicional “Se”. Não significando, portanto, uma anulação da vontade humana, mas em um poder de escolha entregue pelo próprio Deus ao homem. Desta forma, a disposição de querer ir até ao Senhor deve surgir de uma escolha que é realizada pelo próprio homem. Na verdade quando nós queremos ir até o Senhor, se trata de uma vontade “Conjunta”, na medida em que o Senhor quer que nós queiramos/desejemos ir até Ele.

O Senhor Jesus não força compulsoriamente o ser humano a realizar a escolha de ir após Ele, pois se trata de uma decisão pessoal. Isto é reforçado no episódio da cura do cego Bartimeu (Mc 10: 51), quando o Senhor pergunta “Que queres que eu te faça?”, e Bartimeu responde: “Mestre, que eu torne a ver”. Certamente Bartimeu já tinha conhecimento de que o Senhor Jesus curava as pessoas, então, poderia ter pensado: Ou este homem é louco por fazer esta pergunta, pois sabe que sou cego, ou é cego. Entretanto, o Senhor nem era louco, e nem era cego, mas apenas respeitou a decisão que somente Bartimeu deveria tomar.
No versículo 24 “negar-se a si mesmo” implica em abrir mão do ego, ou seja, da vida natural ou anímica. No versículo 25 do livro de Mateus o Senhor diz: “Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida da alma por Minha causa, achá-la-á. – Versão Restauração. Quer dizer, quem quiser preservar o seu ego, que é parte da alma danificada pelo pecado, perdê-la-á, e quem perder o ego hoje (na era da igreja) por amor ao Senhor Jesus, ACHARÁ A SUA VIDA DA ALMA! (Lc 9:24; 17:33; Jo 12:25; 1 Pe 1:9), pois o problema na vida da alma é o ego. Pois o Senhor não quer destruir a alma do homem, mas salva-la: “Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a ruína, mas dos que têm fé para ganhar a alma” – Versão Restauração. A tradução para “ganhar a alma” também admite “preservação da alma”, que é uma recompensa para os que se submeteram ao trabalhar da cruz de Cristo que resulta em perder o ego, por receber mais da pessoa de Cristo: “obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma” (1 Pe 1:9).
Assim, o negar a si mesmo, que é negar o ego, também utilizado por muitos cristãos como negar a vida da alma, não implica em o cristão ficar contínua e permanentemente sofrendo, como no ascetismo combatido por Paulo na carta aos Colossenses (Cl 2:23). Ou seja, como em um autoflagelo de o próprio cristão promover sofrimentos a si mesmo acreditando que isto produzirá amadurecimento na vida de Deus. O Senhor Jesus não deseja que os cristãos fiquem sofrendo, Ele não gosta de torturar os seus filhos como se fosse um sádico a todo o tempo punindo-os. Se o cristão continua sofrendo após dizer que foi crucificado com Cristo, é porque se encontra Vivo! Pois se tivesse morrido NADA deste mundo exterior o afetaria, pois estaria verdadeiramente morto com Cristo (Gl 2:19-20). 


4 Conclusão
Vemos que o Senhor concede o livre arbítrio para o homem, ele não é um intruso na vida dos cristãos, pois Ele está a porta e bate; esperando que nós ouçamos a sua voz; e ceia conosco se nós realmente quisermos (Ap 3:20). Ele quer que nós sejamos vencedores na pessoa de Cristo, e quer saber se nós queremos! Ele não obriga ninguém a segui-lo, não ROBOTIZA ninguém, mas, aguarda ansiosamente que nós queiramos segui-lo. Portanto, “o negar a si mesmo”, não implica necessariamente em uma anulação da nossa vontade! Mas, em uma vontade CONJUNTA de Deus e do homem. É assim que a economia de Deus é cumprida, a vida de Deus cresce em nós de tal maneira que a nossa vontade é convergente com a de Deus, as vontades divino-humanas se afunilam; e o desejo do Senhor finalmente torna-se o nosso desejo, e o nosso desejo o Dele. “Agrada-te do SENHOR, e ele satisfará aos desejos do teu coração” (SL 37:4) e, por fim, os desejos de Deus e do homem se mesclam ao ponto de que o homem passa a desejar genuinamente a vontade de Deus. Esta é a maneira pura, terna e graciosa de em amor desejar a Vontade de Deus.

Postado por: Kleydson Feio em
http://restauracaodaigreja.blogspot.com/search/label/Negar%20a%20Vida%20da%20Alma%20N%C3%83O%20%C3%A9%20B%C3%ADblico
5 Referência Bibliográfica:
1- A Bíblia, que é o livro mais importante de toda a minha vida.
2- Estudo-Vida de Mateus, W. Lee 
3- Estudo-Vida de João, W. Lee
4- Estudo-Vida de I Coríntios, W. Lee
5- Estudo-Vida de Colossenses, W. Lee 
6- Estudo-Vida de Tessalonicenses, W. Lee
7- Guerra contra os Santos, Jessie Penn-Lewis, tomos 1 e 2, versão integral, Editora dos Clássicos.
8- O Homem Espiritual, W. Nee, Vol. I, II, e III.
7- Versão Restauração do Novo Testamento, W. Lee

Comentários

  1. Também concordo que "negar a vida da alma" como tem sido colocado não é bíblico.

    Um problema que vocês que estão do lado H vão ter por muito tempo é, por favor entendam o que quero dizer, o cérebro lavado.

    Pouco a pouco vocês descobrirão que muitas coisas que vocês "herdaram" do lado D não são bem assim...

    Por exemplo, essa mania de ficar "invocando" sem parar como se Deus fosse surdo e não ouvisse de primeira.

    E digo uma coisa: a raiz de todos essa loucura que está acontecendo tem um nome: W. Lee.

    Vocês aí do lado H que são bastante investigativos, procurem saber sobre a vida desse senhor, tentando abandonar devoção paranóica que sempre lhe foi devida, e talvez concordem comigo.

    ResponderExcluir
  2. Anônimo disse...Creio que a ênfase deve estar em negar a si mesmo para seguir ao Senhor.
    Sem a segunda parte (Seguir ao Senhor) isso está mais para o acetismo dos ensinamentos de confúcio. Que me perdoem os chineses que trouxeram esse ensinamento e tentam vender isso aos incautos.

    ResponderExcluir
  3. Muito bom esse artigo me iluminou muito estava com algumas duvidas mais agora compreendo melhor, negar a vida da alma é negar o pecado e as vontades que esse mundo insiste em nos colocar em nossa mente, o fardo de Cristo é leve, o fardo do mundo é pesado nesse mundo você tem que acumular cada vez mais riqueza material não importando como vai consegui-la, você tem que beber, fumar, usar drogas e pegar o maximo de mulher possivel para ter um pouco de prazer iluzorio, só assim você será igual ao mundo, muito sangue foi derramado nesse mundo para que alguns conseguissem mais riquezas, e ainda continua assim e então qual vida você prefere o mundo e o pecado ou a vida santa de Cristo? viver com Cristo negando o nosso ego pecador é a unica forma de viver em paz hoje em dia, mesmo que sejamos descriminados por alguns que não conhecem o amor de Deus.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Deixe seu comentário:

Postagens mais visitadas deste blog

Igreja em Sumaré - Início da Libertação?

Assim como outras igrejas tem se libertado clique [AQUI] para saber mais ,  acreditamos que a mensagem liberada na igreja em Sumaré-SP, próxima à Estância Árvore da Vida,  possa ser um retorno ao princípio.  Nesta mensagem os irmãos responsáveis (lê-se presbíteros) começam a soltar o verbo (literalmente) em claro sinal de desgosto e desaprovação à atual situação das igrejas sob o domínio do império Árvore da Vida. Para maiores esclarecimentos leia também: As divisões sempre são más? Existe um mover atual? Tradições da Igreja Árvore da Vida Ministerialismo na Árvore da Vida Você está em uma igreja ou em uma organização? Manutenção do poder na Árvore da Vida Esta mensagem (liberada em 15 de maio de 2011) expõe tabus, aborda pontos polêmicos e DONG-MAticos (dogmáticos) da chamada "restauração do Senhor" tais como: - As igrejas tem liberdade para desfrutar a literatura que estiver mais adequada às suas necessidades. - Problemas causados pela associação da igreja com

Refletindo sobre a "Base da Localidade" (parte 1): Austin Sparks X Witness Lee

Conheça  W. Lee  - Conheça  Austin Sparks  e seus escritos sobre  FUNDAMENTOS O xeque-mate de Sparks sobre Lee T. Austin Sparks perguntou: “O que vocês querem dizer com a Base da Igreja?” Witness Lee disse: “Aplicado pelo “tipo” do Velho Testamento, Israel não podia construir o templo na Babilônia, ou no deserto, mas apenas em Jerusalém, que era a base original”.  T. Austin Sparks falou :   “Sim, mas qual é a base original de Jerusalém?” Lee respondeu : “E onde o Espirito Santo pela primeira vez edificou a igreja em uma localidade, uma igreja em Atos”. T. Austin Sparks então falou: “Isso é a tua interpretação! Ate onde eu sei a Base real da Igreja nao é uma localidade, uma igreja, mas é o próprio Cristo!” Quando eu ouvi isso foi um choque para mim, pois eu também estava apoiado ao ensinamento de W. Nee aquela época. Foi um grande choque pra mim pessoalmente perceber que a base original de Jerusalém não é uma localidade, uma igreja, mas sim, o próprio Cristo! Por
Texto MUITO atual, apesar de ter sido publicado Jun/2002 em: http://www.unidadedaigreja.rg3.net ou http://www.unidade.cjb.net). OBS: Atualmente as referidas páginas estão indisponíveis. ÍNDICE: - INTRODUÇÃO 1 O DESVIO DO ENSINO EM RELAÇÃO AO ENSINO DOS APÓSTOLOS: 1.1 O ensinamento da "presente verdade" como verdade "atualizável" conforme o "mover de Deus" 1.2 O ensinamento sobre "revelação de primeira mão" como um tipo de revelação vedada aos santos em geral, sendo permitida por Deus apenas ao apóstolo 1.3 O ensinamento da Unidade como uma homogeneização oriunda de práticas exteriores 1.4 O ensinamento sobre "ser um com o ministério", como uma dependência exclusiva de uma total subordinação a um ministério particular de um homem, para poder ser agradável a Deus 2 AS ESTRATÉGIAS DAS PRÁTICAS QUE INDUZIRAM AO DESVIO DA ECONOMIA NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS: 2.1 A centralização em um oráculo único e exclusivo, como forma de