Como Era No Princípio
T. Austin-Sparks
Capítulo 8 - Libertação por Iluminação
Nesta busca pelos segredos do
poder e efetividade como ponto distintivo de
coisas neste livro de “Atos”, estamos vendo que
esses segredos são tão grandemente encontrados
no que aconteceu aos próprios apóstolos, e não
num sistema completo de ensino, prática ou ordem
em forma de relatório. É ainda quase impossível
saber exatamente como eles conduziam as suas
reuniões. Há certas características mencionadas,
e diversos detalhes apresentados quanto às
coisas que aconteciam, porém, muita coisa era
simplesmente espontânea, sem qualquer arranjo.
Há conhecimento suficiente para fazer uma
correspondência contemporânea tão revolucionária
de maneira a desconcertar muito das nossas
formas, aceitações e procedimentos usuais. Por
exemplo, a nossa forma atual da “Santa Ceia” ou
“Mesa do Senhor” possui muito pouca semelhança
com a do Novo Testamento, e as reuniões da
igreja local eram quase que inteiramente
diferentes das nossas reuniões. À parte de
muitos fatores e características básicas, mesmo
aquelas mais genéricas, como batismo e o fato de
partir o pão, não há nenhum modelo rigidamente
especificado no Novo Testamento. É, portanto,
uma falsa esperança e esforço vão tentar
‘formar’ “Igrejas Neotestamentárias Perfeitas”.
Isto não significa que não haja princípios
espirituais muito definidos os quais, se
realmente prevalecerem, irão produzir o poder e
a efetividade daqueles primeiros tempos. É a
fim de descobrir isto que estamos nos lançando
nessas considerações.
O princípio espiritual ao qual
iremos agora dar atenção é um sobre o qual
existe a maior controvérsia e oposição. Isto é
normalmente verdade no caso das questões de
grande importância, e estamos convencidos de que
esta matéria agora diante de nós é de fato da
máxima importância. É o que iremos chamar de:
Libertação por Iluminação.
Em relação a isto devemos começar
com o que aconteceu aos apóstolos no dia de
Pentecostes.
É muito claro a qualquer um que,
apesar de todo o ensino e explanação dada
pessoalmente por Jesus aos seus discípulos, eles
não O compreenderam, como também não
compreenderam as Suas Escrituras. Até mesmo
quando Ele deu a dois deles aquilo que devia ter
sido um magistral e incomparável discurso sobre
a chave para todas as Escrituras, de Moisés em
diante, e por um momento, “abriu suas mentes,
a fim de que pudessem compreender as Escrituras”,
é evidente que a “raiz da questão” não estava
dentro deles. Foi como uma iluminação
transitória dada a Pedro, quanto a Pessoa de
Cristo, da qual Jesus disse que não tinha sido
carne nem sangue quem revelara aquilo a ele, mas
o Seu Pai celeste. A iluminação transitória não
salvou Pedro da coisa mais terrível e trágica
que um homem poderia fazer: negar o conhecimento
de Jesus com raiva e veemência. Não, até o
sepultamento de Jesus e pelos quarenta dias
posteriores, as Escrituras era um livro
completamente fechado para eles.
Porém, olhe e ouça no dia de
Pentecoste! Pedro e os onze passam a gozar de
uma Escritura aberta; as Escrituras são
vivificadas. Olhe para as referências, citações
e interpretações. A Bíblia estava completamente
viva e estava compungindo os corações dos
homens, fazendo-os clamar.
O livro fechado significava
homens amarrados e aprisionados. A iluminação
espiritual foi a libertação deles. O Senhor foi
liberado a eles pelo Espírito Santo e, a partir
de então, eles se tornaram homens livres.
Até aqui ninguém irá levantar
qualquer objeção. Porém temos que ir mais
adiante. O que temos como sendo nosso Novo
Testamento é o produto da continuação daquela
iluminação. Quão felizes nós cristãos devemos
ficar por nosso cristianismo não ser um tratado
ou manual de assuntos religiosos, discursos
sobre filosofia da religião ou doutrina, mas ser
a verdade Divina revelada, a fim de satisfazer
as situações cruciais que surgem na vida real. É
luz dada pelo Espírito de Deus no meio da
batalha, da adversidade e da absoluta
necessidade. É história espiritual produzida
sobre a bigorna de profunda experiência. O Novo
Testamento é a revelação dada em contraste com
situações e condições que precisam de nada menos
do que uma completa salvação, uma questão de
vida ou morte. Não é um volume de teorias
abstratas, mas de luz celeste para libertar
almas. Portanto, o seu valor é prático, e não
teórico; é vital, e não estático; é fundamental,
e não opcional.
Até aqui tudo bem. Porém agora
chegamos a um ponto vital:
Vamos nos apressar para dizer muito enfático e
categoricamente que, como uma revelação divina
em substância e instrumental, a Bíblia está
fechada e completa. Não há nada a acrescentar a
ela em substância e conteúdo. Deus não irá dar
mais nenhuma Escritura, do mesmo modo não irá
dar nenhum Cristo extra. Ao dar o Seu Filho, Ele
deu tudo Nele! Com as Escrituras Ele deu TUDO em
conteúdo.
Porém, quando dissemos isto
podemos ficar apenas com o Novo Testamento, como
ficavam os discípulos com o Velho Testamento.
Podemos ter a carta, o livro, o registro, e
mesmo assim não ter o significado. A obra do
Espírito Santo era dupla em relação a isto.
Primeiramente dar a substância e o selo como
definitivo a este respeito. Segundo, revelar ou
iluminar o que está na substância. O primeiro
alcançou o seu auge e finalidade quando o último
apóstolo deixou esta terra. O segundo continua.
O Novo Testamento usa duas palavras nesta
questão. Ele fala de ‘conhecimento’ (i.e
de Cristo) e também fala de ‘pleno
conhecimento’ (‘Dele’). Um é por meio da
abertura inicial dos olhos; o outro é pela
iluminação contínua. Por isso o apóstolo Paulo
orava pelos crentes para que “Ele vos dê
espírito de sabedoria e de revelação no pleno
conhecimento Dele, tendo iluminado os olhos do
vosso entendimento” (Efésios 1.17,18). É por
meio dessa iluminação que a vida é mantida, que
o crescimento é assegurado, e que a libertação é
feita.
Os discípulos, no dia de
Pentecoste, se tornaram homens emancipados, e
uma marca de sua emancipação foi a vivificação
das Escrituras pela iluminação dada pelo
Espírito Santo. Mas isto não parou aí. Veja o
discurso de Estevão. Veja o discurso de Pedro,
no episodio de Cornélio. Veja Filipe e o etíope,
e assim por diante. Esta não é uma reivindicação
para que uma revelação extra e especial seja
adicionada às Escrituras, mas é uma declaração
de que ‘o Senhor tem ainda mais luz e verdade
para fazer brotar de Sua palavra’.
Sobre esta matéria, ouça o que um
respeitado e aceito servo do Senhor tem a dizer:
“A semente interior da verdade
tem a mesma substância que a casca. A mente
consegue entender a casca, mas somente o
Espírito de Deus pode entender a essência. Nosso
grande erro tem sido este: temos confiado na
casca, e crido que estamos sãos na fé porque
somos capazes de explicar a forma exterior da
verdade, como encontrada na Palavra. A partir
deste erro mortal, o fundamentalismo está
morrendo lentamente. Temos esquecido de que a
essência da verdade espiritual não pode chegar a
alguém que conhece a face externa da verdade a
menos que primeiro haja um milagre do Espírito
dentro do coração” (A.W. Tozer em ‘A Divina
Conquista’).
Muitos servos de Deus tiveram
toda a sua vida e ministério revolucionados e
libertos _ como os apóstolos _ por meio da
iluminação dada pelo Espírito Santo para
entender a Palavra de Deus, a qual tinha estado
a muito tempo em suas mãos, muito familiar
quanto a sua linguagem e substância. Este é
certamente um dos segredos do poder e da
efetividade de vida e pregação “Como Era No
Princípio”. As mesmas Escrituras podem ser
usadas por dois pregadores ou ensinadores
distintos, com resultados diferentes. O primeiro
pregador, com um céu aberto e ministrando na
unção pela iluminação espiritual em seu próprio
espírito, traz um impacto celestial onde a vida
é comunicada. O outro, com apenas uma
compreensão mental, estudada e mais ou menos
inteligente, porém espiritualmente improdutiva,
deixa o coração vazio.
Até aqui, nesta conexão
específica, temos apenas fatos declarados. Não
podemos ser tão fortes nesta declaração. Ainda
restam duas coisas a serem feitas. A primeira é
que o povo do Senhor, especialmente os seus
servos, deve perceber que o dom do Espírito
Santo (que é para TODOS os recém-nascidos) é
definitivamente para iluminação, ou, como dizem
os apóstolos _ “Espírito de... Revelação”; para
revelar, interpretar, e para guiar a “toda
verdade”. João faz disto um ponto muito
decisivo, quando fala de “a Unção que
recebestes”. Ele fala que “a Unção vos ensina
todas as coisas”. Todos os crentes devem se
beneficiar de novos olhos e nova visão como uma
parte integrante de seu novo nascimento. Esta
faculdade de visão e compreensão espiritual deve
crescer em força e profundidade por toda a vida.
Não é algo extra; é o desenvolvimento de uma
capacidade dada no novo nascimento.
Contudo, pode haver certa
necessidade, até mesmo uma crise, que resulte na
liberação do Espírito, e na libertação do
discípulo. Deve ser reconhecido que o ministério
dos apóstolos, principalmente para os crentes,
tinha esta iluminação e compreensão espiritual
como sua força motriz, o que significa que até
mesmo crentes verdadeiros podem estar limitados
nesta questão. Vamos, no entanto, tomar esta
iluminação espiritual como direito de
nascimento, e ter um exercício definido a
respeito disto diante do Senhor.
FIM
*A
tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da
Silva, que, por reconhecer a excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de
Cristo, para sua edificação. Peço aos irmãos que possuírem
conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as
suas preciosas observações e retificações para:
valdineibr@gmail.com
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Em
consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo
que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos
não possuem copirraite. Portanto, você está livre para
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