O Caminho da Salvação — A Fé Versus a Lei e as Obras
Nos capítulos anteriores deste livro,
vimos que toda a essência do homem é pecaminosa. Também vimos que é Deus
que realiza tudo. Foi Ele que nos amou. Foi Ele que nos concedeu
graça. Foi Deus que cumpriu a justiça, que levou o Senhor Jesus a
morrer e ressuscitar por nós. Foi ainda Deus que enviou o Espírito
Santo para nos convencer, iluminar e dar força para aceitarmos a
obra de Deus. Deixe-me fazer-lhe uma pergunta muito comum. Que deve o
homem fazer para ser salvo, visto que Deus completou toda a Sua obra?
Deus fez toda a Sua parte. Hoje Ele colocou esta obra concluída
diante do homem. Qual é, então, a condição para sermos salvos?
Deus levou a cabo a obra da redenção. Como pode o homem agora
receber a salvação? Como a redenção pode tornar-se salvação?
Como pode a propiciação tornar-se substituição? Como pode o dom
de Deus para nós, em Seu Filho, ser transmitido a nós no Espírito
Santo? Aqui, estamos falando acerca da condição para a salvação.
Que devemos fazer, de nossa parte, antes que o que é da parte de
Deus seja transmitido a nós?
O Caminho da Salvação — Não é a Confissão ou a Oração
Vimos nos capítulos anteriores que o
caminho para uma pessoa ser salva não é por meio do cumprimento da
lei, das boas obras ou do arrependimento. Aqui devo esclarecer um
ponto: estamos somente discutindo o modo da salvação e não a
condição para a salvação. Isso é devido ao fato de que
simplesmente não se requer nada do homem para ele ser salvo. Deus
preencheu todos os requisitos. A pergunta diante de nós agora é:
Qual é o caminho para sermos salvos? Não estamos tratando da
questão da condição, pois isso implica que a pessoa tem de labutar
por sua salvação.
O CAMINHO DA SALVAÇÃO NÃO É A CONFISSÃO
Agora iremos considerar o quarto “não
é”. Agradecemos a Deus porque, nos últimos anos, Ele se moveu em
vários lugares e fez com que várias pessoas se conscientizassem do
que é o pecado e da necessidade de o Senhor Jesus ser o Salvador
delas. Porém, sem entendimento da Bíblia, freqüentemente elas
adicionam suas próprias palavras às das Escrituras. Fazendo assim,
elas inventam diferentes maneiras para a salvação, tal como o
cumprimento da lei, boas obras, arrependimento e assim por
diante. O
método popular hoje é a confissão dos pecados. Existem alguns que
defendem que salvação é pela confissão, que é necessário ao
homem não somente se arrepender, mas confessar seus pecados. Certa
vez ouvi uma pessoa, muito usada pelo Senhor, dizer que quando Jesus
morreu, Ele pregou na cruz pedaços de papel nos quais nossos pecados
foram escritos, e em cada folha foi escrito um dos nossos pecados.
Ele disse que quando recebemos o Senhor Jesus como Salvador, temos de
confessar nossos pecados diante de Deus ou diante dos homens. Uma vez
que a confissão é feita com relação a certo pecado, o registro
daquele pecado é removido da cruz. Em cada confissão adicional
seria removido outro pedaço de papel. Você seria finalmente salvo
quando todos os seus pecados tivessem sido confessados e todas as
folhas de papel fossem rasgadas. O que esse homem pregava não era o
evangelho de Deus nem o do Novo Testamento; ele introduziu um
evangelho humano, o qual afirma que se uma pessoa confessar ao homem
e a Deus, seus pecados ainda terão que ser removidos da cruz. Ele
falhou totalmente em não perceber o que o Senhor Jesus cumpriu.
Ainda posso lembrar-me do caso de um
irmão de Kulim que não tinha estudo e que estava em Xangai há
algumas semanas. Ele era eletricista. Era semi-analfabeto até
recentemente. Algum tempo atrás podia somente identificar o pronome
“Eu” e não “Nós”. Não era capaz de reconhecer a maioria
das palavras num versículo bíblico, e precisava pedir ajuda sete ou
oito vezes para ler um simples versículo. Certa vez ele me disse:
“Fui ouvir um sermão de uma pessoa muito famosa. Esse homem
afirmava que devemos confessar nossos pecados em público; assim,
cada pecado que confessamos será pregado na cruz. Se não
confessarmos nossos pecados abertamente para crucificá-los, não
poderemos ser salvos. Ele disse que precisamos crer na palavra da
cruz e se não pregarmos nossos pecados na cruz pela confissão, não
haverá maneira de sermos salvos, pois isso significaria que não
confiamos na cruz. Depois do sermão, o pregador fez perguntas para a
audiência para ver se havia algum ponto que não estava claro”.
“Sr. Nee”,
continuou o irmão, “eu não estudei. Se tivesse de me levantar na
reunião para ler um versículo das Escrituras, as pessoas iriam
provavelmente corrigir-me sete ou oito vezes. Mas quanto mais eu
ouvia o homem falar, mais sentia algo a me incomodar. Senti que o
Espírito Santo não me deixaria ir, a menos que eu me levantasse.
Mas realmente não sabia o que falar. Finalmente levantei-me. Lá
estava o pregador no púlpito e aqui estava eu em pé. Eu perguntei:
‘De acordo com sua pregação somos salvos pela nossa própria cruz
ou pela cruz de Cristo?’ e sentei-me. Sr. Nee, pode me dizer se fiz
a pergunta certa?”
Eu falei ao irmão que nem um doutor em
teologia ou um supervisor paroquial teria tal clareza. Essa é a
questão-chave: Somos salvos por nossa própria cruz ou pela cruz de
Cristo? É a cruz de Cristo ou a minha própria cruz que me salva?
Aquele sermão foi, sem dúvida, a palavra da cruz, mas qual cruz?
Quando Paulo disse: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a
Jesus Cristo e este crucificado” (1 Co 2:2), ele não fez alusão a
Cristo e à cruz, mas a Cristo e a Sua cruz. Caro leitor, não somos
salvos por nossas próprias obras, mas pela cruz de Cristo. Todavia o
homem equipara confissão de pecados com obras e tenta ser salvo por
meio de tal confissão. Essa é a razão pela qual devemos considerar
agora o que a Bíblia nos diz sobre confissão. Devemos examinar toda
a Bíblia para achar a posição adequada que devemos tomar quanto a
esse assunto.
CONFISSÃO NA BÍBLIA
Permitam-me primeiramente dizer algumas
palavras a fim de que não pensem que não creio em confissão ou
restituição. Os cristãos devem confessar seus pecados e fazer
restituição. Admito que essas são verdades na Bíblia e, como
tais, devem ser aplicadas. Mas tenho de acrescentar que a Bíblia
nunca considera a confissão como um caminho para a salvação. Se
pensamos que podemos ser salvos por meio da confissão, então a
solução para o problema dos nossos pecados ainda não está clara
para nós. Estamos presumindo que há outro método de redenção
fora a cruz de Cristo. Podemos até imaginar que podemos lidar com
nossos próprios pecados diante de Deus e dos homens sem a cruz de
Cristo.
1 JOÃO 1:9
Vejamos um versículo que muitas
pessoas gostam de citar, 1 João 1:9, que diz: “Se confessarmos os
nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos
purificar de toda injustiça”. Há algumas pessoas que, baseadas
nesse versículo, afirmam ser a confissão realmente um requisito
para a salvação. Porém tenho de chamar a sua atenção para alguns
pontos nesse versículo. Primeiro, o que é mencionado aqui,
definitivamente não é uma confissão pública. A Primeira Epístola
de João, capítulo 1, versículo 9, trata de nossos problemas diante
de Deus quando diz: “Se confessarmos os nossos pecados”. Isso é
diferente da prática comum de confissão diante dos homens. Em 1
João 1:9 nada é dito sobre confissão pública.
Segundo, o pronome nós nesse versículo
não é o mesmo pronome usado nos livros de Romanos e Gálatas. Em 1
João 1:9, esse pronome nada tem a ver com os judeus. A Primeira
Epístola de João também é diferente do evangelho de João. O
Evangelho de João mostra-nos como um incrédulo pode obter vida,
enquanto sua epístola conta-nos como alguém que tem vida demonstra
diante do homem que de fato possui essa vida. Seu evangelho revela a
maneira de receber vida, enquanto sua epístola revela como alguém
que possui tal vida demonstra o que possui. Então, devidamente
explicado, o “nós” no versículo 9 de 1 João 1 não se refere
aos pecadores, mas aos cristãos. O Evangelho de João descreve como
um pecador é justificado por Deus, mas a Primeira Epístola de João
mostra como um cristão pode restaurar sua comunhão com Deus. A
palavra na epístola não discute como o mundo pode crer em Jesus
para obter a vida eterna. Ela indica como podem ser perdoados por
Deus os pecados de alguém que tem a vida eterna, e como tal filho de
Deus que falhou pode ser purificado de sua injustiça. Portanto, esse
versículo faz referência somente aos cristãos, aos que foram
salvos e justificados, que possuem a vida eterna.
Lembre-se de que alguém salvo é
perdoado pelo fato de confessar seus pecados, ao passo que uma pessoa
não-salva é perdoada dos seus pecados pela fé. Pecadores são
perdoados por crerem no Senhor e os cristãos são perdoados por
confessarem seus pecados diante do Pai. O versículo 9 de 1 João 1
não trata dos pecados de um pecador, mas com os de um cristão; não
com os pecados cometidos antes da salvação de uma pessoa, mas com
os cometidos depois de a pessoa ter sido salva. Conseqüentemente,
esse versículo nada tem a ver com o nosso assunto do momento.
Agora, eu não seria tão rigoroso em
dizer que esse versículo pode somente ser aplicado aos cristãos.
Pelo contrário, admitiria que alguém pode tomá-lo emprestado das
Escrituras e utilizá-lo para fazer com que as pessoas sejam salvas.
Recentemente uma irmã contou-me que certa senhora foi salva ao ler a
frase:“A semente é a palavra de Deus” (Lc 8:11). Não sei como
isso pode ter acontecido. Quando eu preguei o evangelho pela primeira
vez, estava convencido de que temos de usar porções esclarecedoras
das Escrituras a fim de salvar as pessoas. Porém muitas experiências
recentes ensinaram-me, digo isso reverentemente, que muitos são
salvos por meio de versículos estranhos. Não se pode imaginar que
alguns versículos tão estranhos podem salvar as pessoas. Não estou
insistindo que nenhum pecador pode ser salvo por meio de 1 João 1:9.
Estou dizendo que quando João foi movido pelo Espírito Santo para
escrever sua Epístola, em sua mente esse versículo referia-se aos
cristãos e não aos pecadores. Originalmente ele escreveu para os
cristãos. Embora alguém possa temporariamente tomar emprestada essa
palavra e aplicá-la a um pecador, ele não pode continuar tomando-a
emprestada. Estritamente falando, tal versículo refere-se aos
cristãos e não implica que alguém tenha de confessar seus pecados
publicamente e fazer restituição aos outros para ser perdoado.
MATEUS 3:5 e 6
Existem ainda outros dois versículos
que parecem ser até mais óbvios do que 1 João 1:9; são os
versículos 5 e 6 de Mateus 3, que dizem: “Então, saíam a ter com
ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a circunvizinhança do Jordão;
e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus
pecados”. Aqui nos é dito que quando as pessoas ouviram o
testemunho de João e perceberam sua própria pecaminosidade, foram
até João para serem batizadas por ele e confessaram os pecados
enquanto eram batizadas. Novamente, alguns pontos devem ser notados
nesses versículos. Primeiro, nenhum dos dois versículos indica que
as pessoas tomaram a confissão como o caminho da salvação. Elas
não tentaram obter salvação pela confissão. É simplesmente dito
que elas escutaram a pregação de João sobre arrependimento, foram
compelidas pelo Espírito a ser batizadas e a confessar os pecados.
Elas estavam, de fato, olhando para o próprio Senhor, que estava
para passar pela morte e ressurreição, e em quem esperavam para a
salvação. Embora João batizasse, suas mãos estavam, na verdade,
conduzindo-as ao Senhor Jesus que estava entre elas. Foi ele que
disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo
1:29). O batismo da igreja e o de João Batista referem-se ao Cristo
que morreu e ressuscitou. João prontamente admitiu quão pequeno
era, declarando: “Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo
3:30) e que o povo não devia crer nele, mas Naquele que viria.
Embora tivesse preparado o caminho, ele não era o caminho; o caminho
era Aquele que viria, o qual ele anunciava.
Como, então, as confissões eram
feitas? Como João não falou para eles confessarem seus pecados,
seus ouvintes devem tê-lo feito por si mesmos. Suponhamos que um de
nós, um obreiro, acabou de testemunhar pelo Senhor, e sem nenhum
tipo de persuasão, ordenança, exigência ou sugestão, os ouvintes
tenham sido profundamente iluminados por Deus na consciência em
relação aos seus pecados. Eles são compelidos a levantar para
admitir que cometeram certos pecados específicos. Em resposta a
isso, eu diria simplesmente “Amém” e “Aleluia”. Louvaria e
nunca me oporia a esse tipo de confissão aberta diante dos homens.
Se João tivesse dito que um homem não poderia ser salvo ou perdoado
a menos que confessasse seus pecados, e se João realmente tivesse
encorajado, impelido, ordenado e induzido as pessoas a confessarem
seus pecados, então suas ações dificilmente iriam igualar-se ao
que está registrado em Mateus 3:6. De acordo com esse versículo, os
ouvintes confessaram seus pecados por conta própria, eles não foram
encorajados por João.
Não presumam que não creio na
confissão de pecados. Temos sempre encorajado irmãos e irmãs a
fazerem confissões uns aos outros. Porém recusamo-nos a aceitar a
confissão como o meio para a pessoa ser salva. Existe somente um
meio de salvação determinado nas Escrituras que é a fé. O
“antigo” João Batista nunca induziu ninguém a confessar seus
pecados. Nem deveria algum “moderno” João Batista constranger
qualquer homem a fazer o mesmo. É claro que, se a pessoa ao
conscientizar-se dos seus pecados levantar-se para fazer uma
confissão, devemos deixá-la fazer assim.
Você deve ter ouvido sobre o grande
reavivamento do País de Gales. Tive oportunidade de estudar, em
detalhes, registros sobre aquele reavivamento. Muitos fizeram estudos
sobre ele. Esse foi o maior de todos os reavivamentos, e começou
entre os anos de 1904 e 1905. Um correspondente de um famoso jornal
britânico foi realmente ao País de Gales em 1909, a fim de conduzir
uma investigação sobre o evento. O País de Gales não era um lugar
pequeno. Os pastores de uma das cidades disseram ao repórter que o
número de almas salvas havia diminuído para quase nenhuma nos dois
anos anteriores. Quando o correspondente perguntou se o reavivamento
estava em declínio, eles responderam: “Sim. Não existe mais
niguém aqui querendo ser salvo, porque todos já foram salvos”.
Sabendo que o reavivamento começou com Evan Roberts, ele então
perguntou sobre seu paradeiro. Eles responderam: “Não temos
idéia”. Quando perguntou-lhes sobre a hora das reuniões,
responderam “não sabemos”. Do mesmo modo, quando inquiriu-os
sobre o local de reuniões, repetiram “não sabemos”. Eles não
sabiam onde estava o líder do reavivamento nem a hora e o lugar das
reuniões. O repórter, então, perguntou o que ele deveria fazer, ao
que responderam: “Nós nos reunimos a qualquer hora, até mesmo à
meia-noite ou de manhã cedo. Não sabemos onde Evan Roberts está,
mas ele pode aparecer a qualquer hora. Há reuniões de reavivamento
em quase todos os lares. Você encontra pessoas orando em vários
lares e em horários diferentes durante a noite. Mas é difícil
achar Evan Roberts. Ninguém sabe onde ele estará”. O repórter
comentou que nunca havia testemunhado um reavivamento como esse em
toda a sua vida. Ele estava determinado a achar Evan Roberts. Seus
esforços nas semanas seguintes, porém, não produziram resultado
algum.
Um dia, quando alguém contou-lhe que
Evan Roberts estava em uma pequena capela, ele imediatamente foi ao
lugar. Ele comentou que a reunião que presenciou foi a mais caótica.
Uma mãe estava amamentando seu bebê; alguns estavam correndo para
dentro e fora da reunião como se fossem vendedores de alguma coisa;
uma mãe estava consolando uma criança que chorava, enquanto outra,
usando uma cadeira como berço, balançava o filho para dormir. O
lugar estava uma bagunça. E ainda parecia haver um inexplicável e
único elemento no ambiente. “Onde está Evan Roberts?” perguntou
o repórter. “O quarto homem da terceira fileira”, alguém
respondeu. “A senhorita Penn -Lewis também está aqui. Lá está
ela naquela fileira”. Estavam todos em silêncio nos seus assentos.
De vez em quando alguém se levantava para pedir um hino ou outro se
levantava para ler alguns versículos das Escrituras. Quando uma ou
duas horas se passaram sem uma única palavra das pessoas, ninguém
pediu licença para sair. Em certos momentos alguns se levantaram
para confessar seus pecados sem serem admoestados para fazer assim.
Amigos, tal obra é a obra de Deus. É
diferente dos sermões de púlpito onde se contam histórias de
pessoas em seu leito de morte com a intenção de convencer o público
de que eles têm de confessar os pecados ou não serão salvos
totalmente. Não estou proibindo a confissão. Existem momentos em
que uma pessoa deve confessar seus pecados. Em certas ocasiões
alguém deve até declarar a uma multidão que tipo de pessoa ele foi
e como Deus trabalhou nele. Porém, nada disso deve ser o resultado
do estímulo do pregador no púlpito. Algumas vezes há mais do que
estímulo; é como se alguns estivessem ordenando. O que está em
Mateus 3:6 é realmente uma confissão pública, mas é o resultado
espontâneo da obra do Espírito Santo e não o resultado de uma
ordem de João. Não estou me opondo à confissão aberta; estou
meramente opondo-me a esse tipo de confissão obrigatória; e muito
menos estou me opondo à obra do Espírito Santo. Gostaria que
existisse mais de tal obra! Se uma pessoa é conduzida pelo Espírito
a confessar seus pecados, todos temos de dizer: “Ó Deus,
agradecemos-Te e louvamos-Te, porque tens trabalhado no nosso meio”.
Mas temos de nos opor a qualquer ensinamento que diga que a confissão
precisa ser feita de certa maneira e até certo nível antes de
certos resultados serem conseguidos. Não podemos trocar confissão
por salvação. Não temos de tomar confissão de pecados como nossa
maneira de salvação.
Temos de notar que na sentença:“E
eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados”,
o principal predicado segundo a língua original não é
“confessando”, mas “eram por ele batizados”. Então, as
pessoas estavam sendo batizadas por João no rio Jordão e enquanto
estavam sendo batizadas, também confessavam seus pecados. Podemos
dizer que “ele falou, andando”, que significa que alguém estava
falando e andando ao mesmo tempo. Enquanto ambos, “falar” e
“andar”, são verbos, “falou” é o principal predicado e
”andando” o verbo subordinado. Portanto, alguém falava, mas
fazia isso enquanto andava. Do mesmo modo, em Mateus 3 as pessoas
foram batizadas no rio Jordão enquanto confessavam, significando que
ao serem batizadas elas estavam simultaneamente confessando os
pecados. Esse é o sentido original em grego. Então, vemos que não
existe um método para a confissão, mas uma ação que ocorreu.
Enquanto as pessoas estavam sendo batizadas, estavam admitindo que
estavam erradas nisso e naquilo. O quadro aqui é do Espírito Santo
trabalhando no meio delas, mais do que uma obra reguladora. Elas
estavam sendo batizadas e confessando, como o exemplo de alguém
falando e andando ao mesmo tempo. De nenhum modo nesse versículo a
confissão é tratada como uma maneira de salvação.
ATOS 19:18 E 19
Existem somente três trechos no Novo
Testamento que registram esse assunto de confissão de pecados.
Chegamos agora ao terceiro trecho, que é Atos 19:18 e 19, que diz:
“Muitos dos que creram vieram confessando e denunciando
publicamente as suas próprias obras. Também muitos dos que haviam
praticado artes mágicas, reunindo os seus livros, os queimaram
diante de todos. Calculados os seus preços, achou-se que montavam a
cinqüenta mil denários”. Embora aqui exista somente a palavra
“confessando” sem a menção de “pecados” é a eles que se
refere. Em 1 João 1:9, diz “confessar nossos pecados”, em Mateus
3:6, diz “confessando os seus pecados” e aqui diz “confessando”
e “fazendo conhecidas as suas práticas”. Primeiro, a confissão
e a divulgação das suas práticas não foram consideradas como uma
maneira de salvação. Segundo, os que confessaram e narraram as
práticas não eram pecadores, mas cristãos, pessoas que eram de
Cristo. Isso pode ser comparado a alguns irmãos e irmãs
levantarem-se nas reuniões para dar um testemunho confessando o que
fizeram no passado. Isso pode também ser comparado a alguns que
testemunham no seu batismo as coisas que fizeram no passado. Nós
também não somos salvos por meio desse tipo de confissão. Alguns
creram e tornaram-se do Senhor. Eles agora confessam o seu passado.
Admitem que foram malignos. Não têm mais receio de contar aos
santos que foram transferidos do barro lamacento para uma rocha
sólida. Quando os efésios queimaram os seus livros de magia, eles
estavam fazendo uma demonstração pública de que, embora tivessem
praticado essas coisas, agora pertenciam ao Senhor. Terceiro, “E
muitos dos que creram vieram”. Nem todos vieram. Nem todas as
pessoas salvas precisam confessar nas reuniões. Quando isso ocorre é
porque o Espírito Santo se move fortemente para impelir as pessoas a
se levantarem para expor suas práticas a fim de glorificar a Deus
mostrando a extensão da salvação de Deus nelas. Amigo, você pode
descobrir por intermédio dessas três porções da Palavra que o
caminho da salvação é mediante a fé e não pela confissão
pública.
Essas são as três porções do Novo
Testamento onde a confissão de pecados é tratada especificamente.
Existe outro lugar, em Tiago 5:16, onde confessar os pecados uns aos
outros é mencionada. Tiago nos fala que quando um irmão ou irmã
está doente, os presbíteros da igreja devem ser chamados para orar
sobre a pessoa doente e ungi-la. E se alguns pecados estão
envolvidos, deve haver confissão mútua e perdão. Essa é uma
questão diferente do assunto deste livro. Vimos todas as passagens
no Novo Testamento a respeito da confissão de pecados. Você vê
agora qual é a maneira de alguém ser salvo? É mediante a fé e não
pela confissão de pecados.
SOBRE A PRÁTICA DA CONFISSÃO
Deixem-me falar um pouco a respeito da
prática da confissão de pecados. Todos nós sabemos a quem
ofendemos e defraudamos antes de ser salvos. Depois que fomos salvos,
sentimos tristeza no coração e desejamos confessar àquelas
pessoas. Isso é algo que devemos fazer. Deus ordena, até mesmo nos
compele a fazê-lo. Isso é ensinado nas Escrituras. Tendo visto a
justiça de Deus e a glória em Sua presença, agora percebemos que é
injusto dever algo aos outros. Que faremos, então? Nós nos
recusamos a ser pessoas injustas. Até falamos a nós mesmos: “Eu
sou salvo. Vou ser um homem justo. Vou lidar totalmente com todas as
áreas nas quais fui injusto ou errado com os outros para que então
possam perdoar-me”. Bem, não há problema com seus pecados
perdoados diante de Deus, mas você tem de confessar aos homens as
suas ofensas. Tal confissão e restituição absolutamente não são
o caminho para a salvação. Você não precisa fazer confissão e
indenização para que seja salvo. Como uma pessoa salva e alguém
que é justo, você está meramente pedindo perdão às pessoas que
enganou.
O ladrão na cruz deve ter roubado e
pecado contra muitos. Porém não teve oportunidade de confessar e
restituir a ninguém, porque mal podia mover-se na cruz. Ele não
podia devolver nenhum item que roubara dos outros. Porém, sem
nenhuma confissão ou restituição, ele ainda pôde ser salvo. O
Senhor Jesus disse para ele: “Hoje estarás Comigo no Paraíso”
(Lc 23:43). Podemos considerar esse ladrão como a primeira pessoa a
ser salva no Novo Testamento. Ele foi o primeiro a ser salvo depois
da morte do Senhor. Portanto, o problema não é de confissão. O
ladrão na cruz, embora privado da oportunidade de fazer
restituições, foi, contudo, salvo. Se ele vivesse, deveria fazer
restituições por causa da justiça. A questão da sua salvação
foi resolvida na cruz num instante. Confissão é algo que segue a
salvação. Ele já foi salvo na cruz; sua salvação não foi
absolutamente devida a nenhum tipo de confissão ou restituição. Se
ele confessasse seus pecados mais tarde, isso não o teria salvo
ainda mais. Aqui é mostrado claramente que a salvação é pela fé,
enquanto a confissão é uma expressão espontânea do viver cristão.
Já que agora conhecemos nosso Deus justo, desejamos clarificar o
problema dos nossos pecados diante do homem. Nossa salvação é
totalmente uma questão entre nós e o Senhor Jesus; ela é resolvida
somente por meio Dele.
Há três fatos aqui sobre os quais
devemos ter clareza. Primeiro, confessar nossos pecados diante de
Deus, julgando-nos, arrependendo-nos e conscientizando-nos de que
somos pecadores. Tudo isso é feito diante de Deus. Isso nos leva a
ter fé e receber o Senhor Jesus como nosso Salvador. Segundo, depois
que fomos salvos, tornamo-nos conscientes de nossas ofensas contra
outros e desejamos clarificá-las. Desejamos fazer restituições e
confessar àqueles que defraudamos, e então poderemos viver uma vida
justa na terra. Terceiro, depois que fomos salvos, quando o Espírito
Santo trabalha em nós, queremos contar aos outros que tipo de
pecadores éramos e quantos pecados cometemos. Podemos fazer isso
durante nosso batismo e podemos fazê-lo depois do batismo.
Não sei se isso está claro ou não
para você. Nunca valorize demais a confissão de pecados. Temos de
colocá-la no lugar estabelecido pela Bíblia. Já que a Bíblia
nunca a considera como um caminho para a salvação, também não
devemos considerar. Graças a Deus foi o Senhor Jesus que me salvou.
Não me salvei . Graças a Deus foi a cruz de Cristo que me salvou.
Não sou salvo por minha própria cruz; a cruz de Cristo fez a obra
de salvação.
O CAMINHO DA SALVAÇÃO NÃO É A ORAÇÃO
Chegamos agora ao quinto "não é".
Existem muitas pessoas que irão adicionar outra condição para a
salvação. Não é guardar a lei ou o bom comportamento, nem é
arrependimento ou confissão. Elas dizem que uma pessoa tem de orar
para ser salva. Elas baseiam sua afirmação em Romanos 10:“Todo
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”
(v. 13). Como resultado, alguns
acreditam que têm de implorar diante de Deus antes que possam ser
salvos. Em várias ocasiões encontrei algumas pessoas que queriam
ser salvas. Elas disseram: “Diariamente eu peço ao Senhor para
salvar-me e ainda não sei quando fará isso. Tenho orado por três
meses sem nenhuma sensação interior. Não sei se Deus achará
conveniente salvar-me”. Também encontrei outras que disseram
“Estou esperando que o Espírito Santo venha e me leve a
ajoelhar-me para pedir a Jesus que me salve. Eu ainda não sou salvo.
Devo esperar que o Espírito me inspire a orar antes que possa ser
salvo”. Por esta razão, precisamos ver se um homem precisa orar
antes que possa ser salvo.
Primeiro, tal pessoa
busca ser salva por meio de oração e súplica por ser totalmente
ignorante quanto ao amor e à graça de Deus. Ela pensa que Deus
odeia o homem e, portanto, tem de orar para Deus mudar de ideia antes
que possa salvá-la. Ela se entrega à oração sem saber o quanto
tem de orar para que Deus a ouça. Você se lembra como Elias
desafiou os profetas de Baal no monte Carmelo? Ele os desafiou a
pedir ao seu deus para mandar fogo. Os profetas “clamavam em altas
vozes e se retalhavam com facas e com lancetas, segundo o seu
costume, até derramarem sangue” (1 Rs 18: 26-29). Eles supunham
que Baal iria ouvi-los somente se infligissem mais dores a seu corpo.
Hoje há os que também pensam que se trouxerem angústia sobre si
mesmos e clamarem suficientemente a Deus, Ele terá compaixão deles.
Esse tipo de pessoa nunca viu o evangelho. Porque nunca viram Deus na
luz do evangelho, acreditam que sua súplica perante Deus irá voltar
Seu coração a eles. Na verdade não há necessidade de Deus voltar
Seu coração. Seu coração já está voltado a eles há muito
tempo. Nós é que necessitamos uma mudança de coração, porque
rejeitamos e opusemo-nos a Ele, e não acreditamos Nele.
Em 2 Coríntios 5:19 diz-se: “A
saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo”.
Deus não ofendeu o homem; foi o homem que ofendeu a Deus. Nunca
houve necessidade de Deus ser reconciliado com o homem. Todos os que
desejam entender o evangelho devem saber que Deus é amor e que Ele
ama o mundo. Ele não tem problema conosco e nenhum de nós tem de
suplicar diante Dele.
Além disso, o homem pensa que tem de
orar e suplicar para que seja salvo, simplesmente porque não percebe
que o Senhor Jesus veio; Ele morreu e ressuscitou; todos os problemas
de pecado estão resolvidos e todos os obstáculos à salvação
estão removidos. Não somente o Senhor Jesus veio, mas o Espírito
Santo também veio. Ele veio para manifestar no homem o que Deus e o
Senhor Jesus realizaram. Muitos pecadores oram pela própria salvação
como se estivessem pedindo ao Senhor Jesus para morrer por eles
novamente. Eles não percebem que Ele completou a obra de redenção.
Como Ele terminou Sua obra, não há razão para suplicar diante
Dele. Hoje é o tempo de ações de graça e louvores; não é tempo
de fazer súplicas e petições. Suponha que seus pais tenham trazido
algo que você pediu. Você pode talvez, com sinceridade, curvar-se
para agradecer a eles. Certamente não iria ajoelhar-se e suplicar,
dizendo:“Por favor dê-me isto porque eu preciso”. É
simplesmente incoerente e sem sentido que continue a suplicar depois
que seus pais já deram algo a você. Hoje Deus não está falando
sobre a gravidade dos nossos pecados. Se estivesse, então haveria
razão para suplicarmos. Ao contrário, Deus está agora dizendo que
Ele deu Seu Filho a você gratuitamente. Seria bem estranho se alguém
lhe desse algo e você ainda lhe suplicasse em vez de agradecer! Se
conhecesse o coração de Deus e se tivesse clareza sobre a obra do
Senhor Jesus, nunca tentaria ser salvo pela oração. Não há lugar
para a oração nessa questão. É melhor ajoelhar-se para agradecer
a Deus.
Certa vez, depois que compartilhei o
evangelho com um homem, perguntei se ele cria. Ele disse que sim.
Quando eu disse: “Vamos ajoelhar-nos”, ele perguntou se iríamos
orar. Disse-lhe que não. Ele perguntou: “Qual o propósito,
então?” Respondi: “Simplesmente para informar o Senhor Jesus”.
Não há necessidade de pedir ao Senhor Jesus para morrer novamente
ou pedir a Deus para amar, ser gracioso ou perdoar-nos. O Senhor já
levou nossos pecados na cruz. Agora, nossa única necessidade é
notificá-Lo, dizendo: “Eu cri no Filho de Deus e recebi a cruz de
Cristo. Ó Deus, eu Te agradeço”. Não é fácil? Sim, receber a
salvação é algo fácil. Claro que para Deus não foi fácil
completar a salvação; Deus levou quatro mil anos para completá-la.
Depois que o homem caiu, Deus levou quatro mil anos para fazer com
que o homem percebesse seus pecados. Ele então fez com que Seu Filho
nascesse de uma mulher e fosse pendurado na cruz para ser julgado
pelo pecado. No final, Ele mandou também o Espírito Santo. Foi
somente depois que Deus trabalhou muito e fez bastante esforço que
recebemos a salvação de maneira tão fácil. Ele pagou o maior
preço para realizar tudo. Agora se você creu e recebeu, tudo o que
precisa fazer é dizer: “Obrigado”. Esse é o caminho da
salvação. Não há lugar para oração aqui.
Por que então Romanos 10 enfatizou o
assunto da oração? Em Romanos 10:5-7 lê-se: “Ora, Moisés
escreveu que o homem que praticar a justiça decorrente da lei viverá
por ela. Mas a justiça decorrente da fé assim diz: Não perguntes
em teu coração: Quem subirá ao céu?, isto é, para trazer do alto
a Cristo ou: Quem descerá ao abismo?, isto é, para levantar Cristo
dentre os mortos”. Dois tipos de justiça são mencionados aqui.
Uma é a justiça decorrente da lei e a outra é a justiça
decorrente da fé. A justiça decorrente da lei resulta das obras de
uma pessoa diante de Deus, e a justiça decorrente da fé é cumprida
em nós pelo nosso crer no Senhor Jesus Cristo. A primeira tem
relação conosco e a última tem relação com Cristo.
É absolutamente impossível para um
homem obter a justiça decorrente da lei porque ela requer que ele
não tenha pecado nos pensamentos, intenções, palavras e
comportamento a cada ano, hora, minuto e segundo de sua vida desde a
hora em que nasceu. Se ele quebra algum item da lei, ele transgride
todos. Para nós, isso é simplesmente uma proposta sem esperança.
Desde que não possamos agora ter a justiça decorrente da lei,
precisamos ter a justiça decorrente da fé. Essa justiça, como
mencionamos, é a justiça pela qual Cristo foi julgado. Desde que
Cristo sofreu a punição, temos a justiça mediante a fé. Essa
justiça não tem relação conosco. As Escrituras dizem: “Não
perguntes em teu coração: Quem subirá ao céu?, isto é, trazer do
alto a Cristo; ou: Quem descerá ao abismo?, isto é, para levantar
Cristo dentre os mortos”. Não há necessidade de fazermos isso.
Não há necessidade de ascender aos céus. Isso significa que não
há necessidade de pedir que Cristo venha à terra e morra por nós.
Não há também necessidade de descer ao abismo. Isso implica que a
ressurreição de Cristo é a base da nossa justificação. Deus já
fez com que o Senhor Jesus morresse e ressuscitasse, e Sua
ressurreição tornou-se a base de nossa justificação. Tudo o que
nos resta fazer é crer.
O versículo 8 diz: “Porém que se
diz?” “Se”, aqui, refere-se à palavra de Moisés. Paulo citou
Moisés para mostrar que até Moisés pregava a justificação pela
fé. Isso é surpreendente, visto que Moisés foi o promotor da lei e
das suas exigências. Mas Paulo apresentou Moisés, dizendo que
Moisés também falou a respeito da justificação pela fé quando
disse: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração”.
Essa é a palavra da fé que proclamamos. Paulo defendia que as
palavras de Moisés referem-se à justificação pela fé. Para
entender essa referência, necessitamos voltar para Deuteronômio 29
e 30, no Antigo Testamento. Lá, Moisés passou toda a lei e os
mandamentos aos israelitas, falando a eles que se falhassem em
obedecer àqueles mandamentos e em guardar a lei, Deus iria puni-los,
dispersando-os entre as nações; e se o coração deles se
aproximasse de Deus na dispersão, a palavra estaria perto deles, até
mesmo na boca e no coração deles. Moisés estava dizendo que o
julgamento de Deus estaria presente sempre que o homem quebrasse a
lei e a transgredisse. Que o homem deve fazer, então? Ele precisa
receber uma justiça separada da lei, a que está na sua boca e no
seu coração. Tal graça separada da lei é um presente para nós.
Quando Deuteronômio foi citado em Romanos 10, uma palavra de
explicação foi adicionada: “A palavra está perto de ti, na tua
boca e no teu coração” que é, “a palavra da fé que pregamos”.
Não há nenhum pensamento de obra aqui. A justiça proveniente da
lei foi completamente transgredida. Quando o povo foi disperso entre
as nações da terra, como predito em Deuteronômio 30, eles não
poderiam mais reivindicar ter realizado obras. A questão de obras
havia terminado. A única palavra que eles tinham então era a
palavra que estava na boca e no coração deles. Outrora, era uma
questão de obras e o resultado foi a dispersão. Agora, não mais há
obras. Portanto, é fé.
Paulo continuou a definir o significado
de “com a tua boca” e “em teu coração” no versículo 9
dizendo: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em
teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás
salvo”. Caro amigo, onde está sua boca? Cada um de nós leva a
boca para onde vai. Ninguém a deixa em casa. Onde está nosso corpo
também está nossa boca. No momento em que cremos no Senhor Jesus,
espontaneamente O confessamos com nossa boca. As primeiras palavras
da boca de Paulo, quando o Senhor confrontou-o na estrada, foram:
“Quem és tu, Senhor?” Ele não havia crido no Senhor antes. Mas
naquela conjuntura, ele creu. Nossa confissão de Jesus como Senhor é
feita muito mais espontaneamente a partir do nosso coração do que
diante das pessoas. Surpreende-me pensar que um povo inculto que
nunca fora exposto ao evangelho antes, ao ouvir as boas novas, possa
dizer, “Ó Senhor”. Isso não pode ser uma obra. Trata-se de uma
manifestação espontânea. Crer no coração não é uma questão de
obra. Não há necessidade de dar alguns passos ou gastar dinheiro. É
necessário dizer “Ó Senhor” exatamente onde se está, e ser
salvo. Pode-se dizer isso audível ou inaudivelmente. Contanto que se
creia que Deus O trouxe dos céus e O levantou do Hades, tudo irá
ocorrer normalmente. Isso provará que se está justificado e salvo.
Nossa confissão nunca pode levar o elemento do mérito. Confissão
não é um caminho para salvação; é meramente uma expressão da
salvação. É algo muito espontâneo. Se dissermos “Senhor” com
nossa boca e crermos Nele no nosso coração, seremos salvos. Não há
nenhum problema.
O versículo 10 segue e explica o
versículo 9. Por que alguém é salvo quando confessa com a boca
Jesus como Senhor e crê no coração que Deus O ressuscitou de entre
os mortos? “Porque com o coração se crê para justiça e com a
boca se confessa a respeito da salvação”. Eu sempre ficava
perplexo sobre como esse assunto poderia ser colocado no coração
das pessoas. Encontrei duas pessoas hoje que consideram esta palavra
de salvação muito longe delas. Para elas, essa palavra está mais
longe do que as províncias de Yunnam e do Tibet; está mais longe
que um país estranho. É simplesmente uma palavra dos céus. Parece
que a palavra de salvação está tão longe que a frustra. Contudo,
Deus diz que o caminho para a salvação não está no céu nem nas
profundezas da terra. Está muito perto, na nossa boca e até no
nosso coração. Se tivéssemos subido aos céus ou descido abaixo da
terra, quereríamos saber como alguém poderia ser salvo. Hoje, a
palavra está na sua boca e no seu coração. Contanto que uma pessoa
abra a boca e creia no coração, ela será salva. Deus fez essa
salvação tão completamente disponível e conveniente que se uma
pessoa crê no coração e confessa com a boca, é salva.
Justificação aqui é mais uma questão diante de Deus que diante
dos homens. Quando os homens vêem você confessando, eles perceberão
que você é salvo. Quando Deus vê você crendo, Ele o justifica. O
versículo 11 diz: “Todo aquele que nele crê não será
confundido”. Somente a fé é suficiente.
Embora a Palavra de Deus seja
abundantemente clara, ainda há os que gostam de argumentar contra
ela. Eles insistem em que a confissão é a maneira de alguém ser
salvo. Gostaria de perguntar a eles: “Se é assim, que você fará
com Romanos 10:8? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu
coração”? Aqui diz a palavra da fé, não a palavra de confissão.
As Escrituras dizem “crer”, elas não dizem “confessar”. O
versículo 6 diz: “Mas a justiça decorrente da fé assim diz”. O
versículo 6 menciona a justiça decorrente da fé e o versículo 8 a
palavra da fé. Há uma confissão no versículo 9 e outra no 10.
Ambas são com a boca. Porém, o versículo 11 não diz: “Todo
aquele que O confessar não será confundido”. Ao contrário, diz:
“Todo aquele que nele crê não será confundido”. Temos de
reconhecer a ênfase aqui. Os versículos 6, 8 e 11 mencionam “crer”
e os versículos 9 e 10 mencionam “confessar”. O versículo 9,
primeiro diz “confessar” e, então, “crer”; enquanto no
versículo 10 está primeiro crer e, então, confessar. Nessa
passagem “crer” é usado cinco vezes e “confessar” duas. No
final, a ordem “confessar” e “crer” é invertida. Tudo isso
significa que a salvação deve ser decorrente da fé e não da
confissão. Confissão resulta da fé. O que crê no coração, fala
espontaneamente com a boca. Uma pessoa diz espontaneamente “papai”
quando vê seu pai. Onde há fé, a confissão vem imediatamente a
seguir.
O final do versículo 12 mostra-nos que
confissão aqui é a confissão de Jesus como Senhor. Essa confissão
vem da fé. Como podemos provar isso? Podemos não ver isso do
versículo 1 até o 11. Mas o versículo 12 diz: “Pois não há
distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de
todos, rico para com todos os que o invocam”. O versículo 13 diz:
“Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. Invocar o
nome do Senhor é equivalente a confessar o Senhor Jesus nos
versículos anteriores. Invocar o nome do Senhor é confessar Jesus
como Senhor, chamá-Lo de Senhor e dirigir-se a Ele como Senhor.
Analisando cuidadosamente o contexto dessa passagem, perceberemos que
invocar é simplesmente confessar.
O versículo 14 diz: “Como, porém,
invocarão aquele em que não creram?” Essa é uma palavra
maravilhosa. Isso mostra que invocar vem de crer. Naturalmente
ninguém pode invocar sem crer. Podemos ver que confessar com a boca
resulta da fé no coração. Porque um homem crê no coração, ele
invoca com a boca. Ele invoca porque crê. Tudo resulta da fé; fé é
o caminho da salvação. Embora seja mencionada a confissão com a
boca, essa confissão é baseada na fé no coração. Invocar é
espontâneo para os que crêem.
Creio que os leitores sejam
salvos e que receberam o Senhor Jesus. Posso perguntar como você O
recebeu? Nós O recebemos pela fé. Você também orou? A salvação
é decorrente da fé. Oração é a expressão dessa fé. Todos no
mundo são salvos pela fé. Porém, essa fé é expressa em oração.
A fé é interior e oração é exterior. Quando você crê no
coração que Jesus é o Salvador, espontaneamente irá orar com a
boca que Jesus é o Senhor. Qualquer um que crer no seu coração irá
confessar com sua boca. Mas precisamos sempre lembrar que confissão
não é o caminho para a salvação. Embora a palavra diga “Todo
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”, entretanto,
invocar não é a maneira da salvação. A razão é que invocar vem
da fé; é uma ação espontânea, algo dito espontaneamente diante
de Deus.
Voltemos ao versículo 12: “Pois não
há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor
de todos”. Eu amo a frase “não há distinção”. Romanos 3:22
e 23 diz: “Justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para
todos [e sobre todos] os que crêem; porque não há distinção,
pois todos pecaram”. Aqui diz: “Pois não há distinção entre
judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos”. Cada um
tem de invocar o Senhor, confessar com a boca e crer no coração
antes de ser salvo.
Que o Senhor seja misericordioso para
conosco e nos mostre que o único caminho para a salvação, de
acordo com a Bíblia é a fé e nada mais. A salvação não é pela
fé mais o cumprimento das leis e boas obras, arrependimento,
confissão ou oração. Essa é a verdade bíblica. Temos de nos
posicionar sobre a Bíblia. A Bíblia revela-nos claramente que o
caminho para a salvação é somente pela fé.
Capítulo
Treze
O Caminho da Salvação — Fé Versus Amar a Deus ou Ser Batizado
Nos capítulos anteriores deste livro,
vimos a necessidade de salvação por parte do homem e a preparação
dessa salvação por Deus. Vimos os problemas que Deus encontrou
quando preparou essa salvação para nós e como Ele resolveu
completamente todos os problemas do pecado. Vimos também a maneira
de receber a salvação. Visto que os homens entenderam a Bíblia de
modo incorreto, eles apresentaram muitas condições para a salvação.
Alguns querem ter um tipo de condição enquanto outros querem ter
outro tipo. Vimos que o homem não é salvo pela lei nem pelas obras.
Ele não é salvo por arrependimento, oração ou confissão. O homem
não é salvo por coisa alguma que ele tenha em si mesmo. Além
dessas maneiras humanas, há ainda dois erros muito comuns na igreja.
O primeiro é o conceito de que para ser salvo, o homem tem de amar a
Deus. Se um homem não amar a Deus, ele não será salvo.
AMAR A DEUS NÃO É O CAMINHO DA SALVAÇÃO
Admito que 1 Coríntios 16 diz-nos que
o homem deve amar a Deus. Se não ama a Deus, ele é amaldiçoado.
Isso é um fato. Mas a Bíblia nos mostra claramente que o homem é
salvo pela fé e não pelo amor. Alguns pensam que há evidências na
Bíblia que provam que o homem é salvo por amar a Deus, e sem amar a
Deus o homem não pode ser salvo. Há alguns pecadores que, quando o
evangelho da salvação pela fé lhes é pregado, dizem que não
podem ser salvos porque não amam a Deus completamente. Eles pensam
que se realmente amarem a Deus e forem levados a Ele, Ele os salvará.
Para eles, o homem é salvo por amar a Deus. Eles não percebem que o
homem é salvo não por amar a Deus, mas porque Deus o ama. Foi Deus
quem amou o mundo e deu Seu Filho unigênito, para que todo o que
Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3:16). Do lado de
Deus, é amor. Do nosso lado, é fé. A reação do homem não
necessita ser igual à de Deus. Ele não tem de amar a Deus como Deus
o ama. Não é dito que o homem precise amar tanto a Deus a ponto de
dar seu filho a Deus para que Deus confie nele, dando a ele a vida
eterna, não o deixando perecer. Não encontramos isso no Evangelho
de João. Agradecemos a Deus porque foi Deus quem amou o mundo de tal
maneira que deu Seu Filho unigênito. A Bíblia não nos diz que
amamos a Deus primeiro, mas que Deus nos amou primeiro. A base da
salvação não é que nós amamos a Deus, e, sim, que Deus nos ama.
Se basearmos a nossa salvação em nosso amor a Deus e em nosso
sacrifício por Ele, imediatamente veremos que a salvação que
teríamos não seria segura. Nosso coração é como a areia do mar
que vem e vai com a maré. Graças ao Senhor. Não é uma questão de
nosso amor por Deus, mas do amor de Deus por nós.
A HISTÓRIA DO BOM SAMARITANO
Embora João 3 e outros lugares possam
dizer o que dissemos, alguns podem perguntar: “E Lucas 10?” Vamos
agora ler o que diz Lucas 10. Lucas 10:25 começa: “E eis que certo
doutor da lei se levantou”. Esse homem tinha uma profissão errada.
“Certo doutor da lei se levantou e O pôs à prova”. Seu motivo
estava errado. Sua intenção não era correta. “Dizendo: Mestre”.
Ele tinha um entendimento errado. Sua compreensão a respeito do
Senhor estava errada. Ele não sabia quem o Senhor era. “Que farei
para herdar a vida eterna?” Sua pergunta estava errada. Eis aqui um
homem que estava errado em sua profissão, errado em seu motivo,
errado em sua intenção, errado em seu conhecimento do Senhor, e
errado na pergunta que fez.
Ele perguntou: “Que farei para herdar
a vida eterna?” Que disse Jesus? “Disse-lhe Jesus: Que está
escrito na lei?” Você é um intérprete da lei. Você deveria ter
conhecimento do que a lei diz. “Como lês?” Alguma coisa deve
estar escrita na lei. Mas o homem pode estar errado ao interpretá-la.
O Senhor está fazendo uma pergunta dupla . Que está escrito na lei,
e que você compreendeu dela? Algumas vezes, a lei é escrita de uma
maneira, mas o homem a interpreta de outra. “Ele respondeu”. Ele
respondeu que isso é o que a lei diz e é assim que ele a
interpreta. “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de
toda a tua alma, de toda a tua força e de toda a tua mente; e ao teu
próximo como a ti mesmo”. Esse intérprete estava muito
familiarizado com a lei. Ele sabia que o resumo da lei é amar a Deus
de todo nosso coração, de toda nossa alma, de toda nossa força e
de todo nosso entendimento, e amar ao próximo como a nós mesmos.
Ele pôde resumir toda a lei nessa frase. Ele era um homem
inteligente. Provavelmente todo aquele que vem pôr à prova é
inteligente. Somente os inteligentes procuram pôr à prova. Que é
pôr outros à prova? Os que querem ser ensinados fazem perguntas, e
os que vêm pôr à prova também fazem perguntas. Os que querem
aprender fazem perguntas porque não entendem. Os que querem pôr à
prova fazem perguntas porque entendem. Alguns perguntam porque não
entendem; eles vêm humildemente para ser ensinados. Alguns perguntam
porque entendem; querem mostrar a você o quanto entendem. Essa é a
razão de pôr à prova. Esse homem veio ao Senhor perguntando como
ele poderia ser salvo. Ele disse que queria a vida eterna e a vida de
Deus. Então, ele deveria fazer o quê? O Senhor disse: “Que está
escrito na lei? Como lês?” O homem repetiu de cor. Ele sabia disso
há muito tempo. É preciso amar a Deus de todo o seu coração, de
toda a sua alma, de toda a sua força e de todo o seu entendimento e
é preciso amar o próximo como a si mesmo. Ele sabia tudo isso. Eis
por que ele repetiu essas palavras de maneira tão correta. Quando
respondeu dessa maneira, o Senhor lhe disse para fazê-lo, e, então,
ele teria condições de herdar a vida eterna.
Aqui está um problema. O que quer que
o Senhor Jesus quisesse dizer quando falou ao intérprete, e
quaisquer que fossem as circunstâncias, todos os que não estão
familiarizados com a verdade e com o significado da palavra de Deus
diriam: “Não está claro o bastante que para ter vida eterna um
homem deve amar a Deus e amar seu próximo? Se um homem não ama a
Deus e ao próximo, não é verdade que ele não poderá ter a vida
eterna?” Apesar de o Evangelho de João mencionar oitenta e seis
vezes que a vida eterna é obtida mediante a fé, alguns podem dizer
que o Evangelho de Lucas diz ao menos uma vez que a vida eterna é
obtida mediante o amor a Deus. Se um homem não amar a Deus ou a seu
próximo, ele não tem possibilidade de ser salvo.
Se for assim, gostaria de perguntar se
algum de nós já amou a Deus dessa forma, isto é, com todo o
coração, com toda a alma, com toda a força e com todo o
entendimento. Não, ninguém amou assim. Não há uma só pessoa que
ame a Deus com todo o coração, toda a alma, toda a força e todo o
entendimento. Ninguém pode dizer que ama seu próximo como a si
mesmo. Não há tal pessoa. Uma vez que não existe tal pessoa,
ninguém ganharia a vida eterna. Precisamos compreender por que o
Senhor Jesus disse que devemos amar a Deus com todo o nosso coração,
toda a nossa alma, toda a nossa força e todo o nosso entendimento.
Agradecemos ao Senhor porque a Bíblia é, sem dúvida, a revelação
de Deus. Não há absolutamente erro algum nela. Eis a razão por que
eu amo ler a Bíblia. Se essa passagem que começa em Lucas 10:25
terminasse no versículo 28, as verdades da Bíblia se contradiriam.
Se fosse esse o caso, o homem teria de amar a Deus de todo o coração,
toda a alma, toda a força e todo o entendimento. Nenhum desses
quatro “todo” poderia ser esquecido. Mas se esse fosse o caso,
ninguém jamais poderia ser salvo. Graças ao Senhor que após o
versículo 28, há muito mais versículos. Vamos continuar a lê-los.
Ainda bem que esse homem era muito
importuno. Ele, porém, queria justificar-se. Ele fez essa pergunta
por nenhuma outra razão senão justificar-se. “[Ele] perguntou a
Jesus: quem é meu próximo?” O Senhor disse que ele tinha de amar
ao Senhor seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de
toda a sua força e de todo o seu entendimento e amar a seu próximo
como a si mesmo. Seria grcosseiro para ele perguntar quem seu Deus
era. Poderia ele, um intérprete da lei, não saber quem nosso Deus
é? Seria também difícil para ele perguntar quem ele próprio era,
pois de todos os homens na terra somente os filósofos não sabem
quem eles mesmos são. Sem nada mais para perguntar, ele perguntou
quem era seu próximo. “Agora você está dizendo que eu tenho de
amar meu próximo como a mim mesmo. Mas quem é meu próximo?” Do
versículo 30 em diante, o Senhor lhe disse quem era seu próximo.
Ele começou a contar-lhe uma história.
Esta história é uma das mais comuns e
familiares na igreja. Seria bom que a lêssemos juntos:
“Jesus
prosseguindo, disse: Certo homem descia de Jerusalém para Jericó,
caiu em mãos de salteadores, os quais, depois de o terem despojado e
espancado, retiraram-se, deixando-o semimorto.
Casualmente, descia um sacerdote por
aquele mesmo caminho; e, vendo-o, passou de largo.
Semelhantemente, também um levita
chegando àquele lugar e vendo-o, passou de largo.
Mas certo samaritano, que ia de viagem,
chegou perto dele e, vendo-o, moveu-se de compaixão.
E, chegando-se, atou-lhe as feridas,
deitando nelas azeite e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio
animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele.
No dia seguinte tirou dois denários e
os entregou ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e o que quer que
gastares a mais, eu to restituirei quando voltar.
Qual desses três te parece ter sido o
próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?”.
Estamos muito familiarizados com essa
história. Vamos gastar algum tempo considerando-a. Esse homem ia do
lugar de paz para o lugar de maldição. Jerusalém significa paz e
Jericó significa maldição. Ele não ia de Jericó a Jerusalém,
uma viagem ascendente. Era de Jerusalém a Jericó, uma viagem
descendente. Ele ia de um lugar de paz para um lugar de maldição.
Esse homem estava na condição descendente. Ele encontrou
salteadores no caminho. Não era um salteador, mas uma quadrilha de
salteadores, que lhe roubaram tudo o que tinha, despiram-no de suas
vestes e o deixaram nu. Eles o agrediram até que ficasse semimorto;
ele estava a ponto de perder a própria vida. A Bíblia nos mostra
que as vestes de um homem são seus atos e o ser de um homem é sua
vida. Aqui os atos brilhantes são roubados e levados embora. A vida
que permanece somente tem um corpo que está vivo; o espírito está
morto. Esse é um homem semimorto. Todos os leitores da Bíblia sabem
que essa é a descrição da nossa pessoa. Desde o tempo em que o
homem foi tentado pela serpente no jardim do Éden e desde que
começou a pecar, ele nunca experimentou paz na jornada de sua vida.
O homem é continuamente tentado por Satanás. O resultado é que
todos os seus atos exteriores são levados embora. Até seu espírito
está mortificado. Ele está vivo quanto ao corpo, mas morto quanto
ao espírito. O homem nada pode fazer quanto a sua condição. Ele
pode apenas esperar que os outros venham e o salvem.
Um sacerdote vinha por ali. Ao ver esse
homem, ele passou de largo. Um levita também vinha. Após ver o
homem, ele também passou de largo. Os sacerdotes e os levitas são
os dois principais grupos de pessoas no Antigo Testamento. No Antigo
Testamento toda a lei está nas mãos dos sacerdotes e dos levitas.
Se você tirar os sacerdotes e os levitas, não haverá mais lei.
Para um pecador semimorto, alguém subjugado por Satanás, à espera
de ir para a destruição e não tendo virtudes exteriores, nada
havia a fazer senão esperar pela morte. Que os sacerdotes lhe diriam
? Os sacerdotes lhe diriam: “Ame o Senhor seu Deus de todo o seu
coração, de toda a sua alma, de toda a sua força e de todo o seu
entendimento e você se levantará e andará”. O levita também
viria e dir-lhe-ia: “Está certo. Mas você também deve amar ao
seu próximo como a si mesmo”. Essas são as mensagens deles. Eis o
que um sacerdote e um levita diriam a um homem à beira da morte. “É
verdade que você está semimorto e que suas vestes brilhantes foram
roubadas. Mas se fizer o bem poderá ser salvo”. Esse é o
significado de amar a Deus de todo o seu coração, de toda a sua
alma, de toda a sua força e de todo o seu entendimento. Isso é o
que significa amar a Deus. Se você vir alguém que não tenha sido
agredido, este alguém ainda pode ter o coração, a alma, a força e
o entendimento para fazer algo. Ainda será possível para ele amar a
Deus de todo o coração, de toda a alma, de toda a força e de todo
o entendimento. Seria possível dizer-lhe isso se ele ainda estivesse
em Jerusalém. Mas o problema hoje é que ele já não mais está em
Jerusalém. Ele está em viagem e está morrendo. Esses mandamentos
não podem ajudá-lo. Além disso, por favor, lembre-se de que hoje
não é uma questão de dar nosso “todo”, mas de receber alguma
ajuda. Eis aqui um homem que está doente e moribundo. Ele está
vivendo em pecado. Ele não pode fazer coisa alguma quanto a sua
própria condição. Se você disser a tal pecador para amar a Deus
de todo o coração, alma, força e entendimento, ele lhe dirá que
nunca amou a Deus em sua vida. Se você disser que ele tem de amar a
seu próximo, ele lhe dirá que tem roubado os outros por toda a
vida. Que você deveria dizer a um homem que está a um passo da
eternidade? Nessa situação, os sacerdotes e os levitas não são de
nenhuma ajuda. Eles apenas podem passar de largo. Quando eles vêem
esse tipo de homem, eles não podem ajudá-lo.
A palavra sobre amar a Deus de todo o
coração, alma, força e entendimento e amar o próximo como a nós
mesmos não é para nos ajudar a herdar a vida eterna. É apenas para
mostrar-nos que tipo de pessoa somos. Se você nunca tiver ouvido uma
palavra sobre amar a Deus, não saberá quão importante é amar a
Deus. Se nunca tiver ouvido coisa alguma sobre amar seu próximo,
você não saberá como é importante amar o próximo. Uma vez que
tenha ouvido a palavra sobre amar seu próximo, você perceberá que
nunca amou seu próximo. Realmente, as palavras na lei tais como amar
a Deus, amar ao próximo, não cobiçar nem matar, existem apenas
para expor nossa pecaminosidade. Elas nos mostram nossa condição. O
propósito da lei, como Tiago disse, é simplesmente servir como
espelho. Ela mostra quem você é. Você não sabe qual é a
aparência do seu rosto. Mas se você olhar num espelho, verá o que
você é. Antes você não sabia que não amava a Deus. Agora você
sabe. Não somente não há o amor de todo o coração, toda a alma,
toda a força e todo o entendimento, como também não há qualquer
amor para com Deus. Não somente não há amor a Deus, não há nem
mesmo amor pelo próximo. Os salteadores já roubaram você. Ainda
assim você não sabe o que aconteceu. Agora, com a lei, você sabe.
Você foi agredido pelos salteadores, deixado semimorto e despojado
de suas vestes nem sabia disso. Agora você sabe. Que, então,
fizeram os sacerdotes e os levitas? Eles vieram dizer a você: “Meu
amigo, você sabe que foi agredido pelos salteadores? Sabe que suas
vestes foram levadas? Sabe que você está semimorto?”
Pouco depois chegou outra pessoa. Essa
pessoa era o bom samaritano. “Certo samaritano, que ia de viagem,
chegou perto”. Diferentemente dos outros dois, este estava em seu
caminho. O sacerdote descia por acaso. O levita também descia por
acaso. Mas o samaritano estava em seu caminho. Ele veio com o
propósito de salvá-lo. “E, vendo-o, moveu-se de compaixão”.
Ele teve amor e compaixão. Além disso tinha consigo óleo e vinho.
Assim, ele pôde cuidar dos ferimentos do que fora agredido pelos
salteadores. Quem é esse samaritano? João 4:9 nos diz que os judeus
não se davam com os samaritanos. Todos os mencionados nessa história
eram judeus. O que foi assaltado pelos salteadores era judeu. O
sacerdote era judeu. O levita era judeu. Que representam os judeus? E
que representam os samaritanos? Os judeus representam a nós seres
humanos. E o samaritano? Os samaritanos nada têm a ver com os
judeus. Eles não se misturam com os judeus. Eles estão separados
dos judeus e acima deles. Sabemos que esse samaritano é o Senhor
Jesus. Um dia, quando o Senhor Jesus estava na terra, um grupo de
judeus criticou-O e O injuriou com duas afirmações muito fortes,
dizendo que Ele era samaritano e que tinha demônio (Jo 8:48). Por
favor, observe que na resposta de Jesus Ele disse que não tinha
demônio. Os judeus disseram que Ele era samaritano e tinha demônio.
O Senhor negou que tivesse demônio, mas não negou que fosse
samaritano. Assim, o samaritano aqui se refere ao Senhor Jesus. João
nos mostra que em tal tipologia Ele é um samaritano.
Esse samaritano veio propositadamente a
este homem semimorto. Quando viu o homem, foi movido de compaixão e
o salvou com duas coisas. Uma foi vinho, e a outra, óleo. Ele
derramou óleo e vinho, aplicou-os sobre as feridas e curou-as. Temos
de ver que isso é após o Gólgota e após o Pentecoste. Não é em
Belém. Se fosse em Belém, teria sido o vinho sobre o óleo. Mas
desde Jerusalém e desde a casa de Cornélio, é o óleo sobre o
vinho. O vinho representa a obra do Gólgota. O óleo representa a
obra no dia da ressurreição e no dia de Pentecoste. O vinho é
simbolizado pelo cálice na mesa do Senhor. Quando você fica doente,
o que os irmãos responsáveis levam até sua casa é o óleo. O que
está representado ali é o que é tratado aqui. Em outras palavras,
o vinho é a obra de ressurreição, e o óleo é a obra de comunhão.
O vinho simboliza o sangue do Senhor ao redimir-nos, e o óleo
simboliza o Espírito Santo aplicando a obra do Senhor a nós. Isso é
significativo. Se fosse derramado somente o óleo , sem o vinho, não
haveria base para nossa salvação. Se não houvesse óleo, a
salvação não teria qualquer efeito. Sem a cruz, seria injusto Deus
perdoar nossos pecados. Significaria que Ele estava tratando com
nossos pecados de maneira relaxada. Significaria que Ele estava
mascarando nossos pecados. Mas sem o óleo, embora Deus pudesse ter
cumprido a redenção em Seu Filho e resolvido o problema do nosso
pecado, essa obra não poderia ser aplicada a nós; ainda estaríamos
feridos.
Aqui vemos que há óleo e há vinho.
Além do mais, o óleo é mencionado primeiro. É o Espírito Santo
que tem aplicado a obra do Senhor sobre nós. Esse é o processo da
salvação. É o óleo que é mesclado ao vinho. O Espírito Santo
nada faz senão trazer até nós a obra do Senhor. Quão maravilhoso
isso é! Muitas de nossas irmãs são enfermeiras. Também temos dois
irmãos aqui que são médicos. Vocês sabem que a função do vinho
é totalmente negativa? Ele é usado como desinfetante. Isso
significa que a redenção do Senhor é para com os pecados imundos e
passados. O óleo está ali para ajudar o vinho. Aqui, por um lado,
há o remover do que estava no primeiro Adão. Por outro lado, há a
nova vida proveniente do Espírito Santo. Somente por meio disso pode
o homem moribundo ser curado. Mais tarde falarei mais sobre essa
questão, se tiver oportunidade.
Depois que o bom samaritano curou as
feridas do homem agredido pelos salteadores, que aconteceu em
seguida? Ele o colocou sobre a sua própria montaria. A montaria
denota viagem. Com uma montaria você pode viajar sem dispender muito
esforço. Quando há uma montaria, não tenho de viajar por meu
próprio esforço; o meu animal me carregará. Onde ia o meu animal?
Ele ia para a estalagem. Essa estalagem é a casa de Deus. Quando
esse homem é levado até Deus, Deus cuida dele.
Qual é o significado de dois denários?
Todos os metais na Bíblia têm seu significado. Ouro, na Bíblia,
significa a natureza, vida, glória e justiça de Deus. Bronze, na
Bíblia, significa julgamento de Deus. Todas as passagens, na Bíblia,
que exigem julgamento têm bronze. O altar era de bronze, a bacia era
de bronze e a serpente erguida no deserto era de bronze. Os pés do
Senhor eram como bronze reluzente; eles são para esmagar. Na Bíblia,
ferro significa autoridade política. Mas prata em toda a Bíblia
significa redenção. Todas as vezes que a redenção é mencionada,
a prata está presente. No Antigo Testamento o dinheiro pago pela
redenção foi prata. Os dois denários aqui significam o preço da
redenção. Os dois denários foram entregues ao hospedeiro. Essa é
nossa salvação. Por causa disso, Deus aceitou todos os que confiam
Nele. Espiritualmente falando, a hospedaria significa a casa
celestial de Deus. Fisicamente falando, ela significa a igreja. “O
que quer que gastares a mais, eu to restituirei quando voltar”.
Após sermos salvos, estamos na igreja esperando pela volta do
Senhor. Esses pontos não são meu assunto principal, mas eu os
menciono de passagem.
O intérprete perguntou ao Senhor:
“Quem é meu próximo?” Depois que o Senhor contou-lhe essa
história, Ele dirigiu-se ao intérprete da lei com uma pergunta:
“Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caiu
nas mãos dos salteadores?” Se ouvir cuidadosamente esta palavra,
você perceberá que o Senhor estava dizendo ao intérprete que ele
era aquele que caiu nas mãos dos salteadores.
Muitos hoje aplicam essa passagem
incorretamente. Eles pensam que o Senhor Jesus quer que amemos nosso
próximo como a nós mesmos. Nas escolas bíblicas, na escola
dominical e nos cultos de domingo, todos dizem às pessoas que elas
têm de ser um bom samaritano. Você tem de amar o próximo, mostrar
misericórdia para com ele e ajudá-lo. Para eles, quem é o próximo?
É aquele que foi agredido pelos salteadores. E quem somos nós?
Somos o bom samaritano. Mas isso é exatamente o oposto do que o
Senhor Jesus estava dizendo. O que o Senhor queria dizer era que nós
somos os que foram agredidos pelos salteadores. Quem, então, é
nosso próximo? Nosso próximo é o bom samaritano. Pensamos que
somos o bom samaritano. Nós podemos mover-nos. Podemos andar. Quando
vemos os subjugados pelo pecado, somos capazes de ajudá-los. Mas o
Senhor Jesus disse que não somos o bom samaritano. Antes, precisamos
do bom samaritano. Somos o homem ferido pelos salteadores na viagem.
Somos os que estão à beira da morte. Não temos quaisquer boas
obras. Quem é nosso próximo? Ele é o bom samaritano. Que é amar
ao nosso próximo como a nós mesmos? Não é dito que devemos amar
os outros como a nós mesmos. Significa que devemos amar o Salvador
como a nós mesmos. Não significa que devemos primeiro amar os
outros antes que possamos herdar a vida eterna. Antes, significa que
se amarmos o Salvador, o Samaritano, certamente teremos vida eterna.
O problema hoje é que o homem
continuamente pensa em obras. Quando lê Lucas 10, ele diz a si
próprio: “Alguém está ferido. Alguém está morrendo. Se eu
cuidar dele e amá-lo, serei um bom samaritano e terei vida eterna”.
Pensamos que quando ajudamos os outros, herdaremos a vida eterna. Mas
o Senhor Jesus disse que se você permitir que alguém ajude você,
você terá vida eterna. Ninguém entre nós está qualificado a ser
o bom samaritano. Graças ao Senhor, não temos de ser o bom
samaritano. Já temos um bom samaritano. Este samaritano, que outrora
nada tinha a ver conosco, agora veio. Ele morreu e resolveu o
problema dos pecados. Agora ressuscitou e nos deu redenção. Ele
está nos ajudando e nos introduzindo no céu, para que Deus possa
nos aceitar e cuidar de nós.
Finalmente, temos o versículo 37: “Ele
respondeu: O que usou de misericórdia para com ele”. Nesse
momento, o intérprete respondeu corretamente. Ele respondeu que era
o que usou de misericórdia para com ele. O que usa de misericórdia
para comigo é meu próximo. Meu próximo é o samaritano que parou
para derramar sobre meus ferimentos o óleo e o vinho, que me colocou
sobre a montaria e me levou à hospedaria. Meu amigo, a questão toda
não é ser o próximo de alguém. Antes, é aquele que usou de
misericórdia para com você, tornar-se seu próximo.
O Senhor Jesus disse: “Vai, e faze tu
de igual modo”. Essa palavra confunde muitas pessoas. Elas pensam
que o Senhor estava nos dizendo para ajudar os outros. Mas o que esta
palavra significa é que seu próximo é o bom samaritano. Portanto,
você deve aceitá-Lo como seu Salvador. Uma vez que o seu próximo é
o bom samaritano, você deve ser o que foi agredido pelos
salteadores. Isso nos mostra que enquanto estávamos prostrados ali,
Ele veio e nos salvou. Nunca diga que podemos fazer algo por nós
mesmos. Nunca diga que temos o caminho. Ele está nos mostrando que
devemos deixá-Lo fazer. Temos de deixá-Lo derramar óleo e vinho em
nossas feridas. Temos de deixá-Lo curar nossos ferimentos. Temos de
deixá-Lo colocar-nos sobre a montaria e levar-nos até a hospedaria.
Temos de deixá-Lo fazer a obra de cuidar de nós. Temos de ser como
aquele ferido. Não devemos ser como o samaritano. A maior falha
humana é pensar que o homem deve fazer algo. O homem sempre quer ser
seu próprio salvador. Ele sempre quer salvar os outros. Mas Deus não
nos mandou ser o salvador. Deus diz que somos os que devem ser
salvos.
Assim, a palavra do Senhor respondeu
totalmente à pergunta do intérprete. Isso não significa que não
se deve amar a Deus com todo o coração, toda a alma, toda a força
e todo o entendimento. A questão é se é capaz ou não de fazer
isso. Não, nós não podemos fazê-lo. Temos uma vida ferida.
Realmente, nossa condição verdadeira é que estamos mortos. Nosso
corpo está vivo, mas nosso espírito está morto. Precisamos da
salvação. Não podemos ajudar a Deus. Nem podemos ajudar ao homem.
Se pensamos que podemos fazer algo, não experimentaremos o perdão
dos pecados. A obra da cruz e a obra do Espírito Santo não virão
sobre nós.
Por isso, lembrem que Lucas 10:25-37
nunca nos diz que o homem é salvo por amar a Deus. Pelo contrário,
é-nos dito que o samaritano compadeceu-se primeiro, antes que nós
pudéssemos amar. É Ele quem ama primeiro, e então nós podemos
amar. Antes que Ele nos ame, não podemos amar. É verdade que se
algum homem não ama ao Senhor, ele é amaldiçoado. Podemos dizer
isso. Em Lucas 7, o Senhor Jesus disse a Simão que a quem muito se
perdoa, muito ama e a quem se perdoa pouco, pouco ama. O amor segue o
perdão. Não é uma questão de que aquele que ama muito recebe
muito perdão e aquele que ama pouco, recebe pouco. O quanto uma
pessoa é perdoada, é o quanto ela ama. Um cristão ama ao Senhor
porque Ele o salvou. Se você não consegue nem mesmo amar o
Samaritano, então não sei o que dizer de você. Não há tal pessoa
na terra. Não há uma pessoa na terra que não ame ao Senhor; todos
devem amá-Lo ao menos um pouquinho. O Senhor disse que aquele a quem
pouco se perdoa, pouco ama. Não diz que não há amor. Todos O amam
em maior ou menor extensão. Contudo, a condição da salvação não
é nosso amor. Se fui salvo porque amo ao Senhor, então qualquer
pessoa pode ver que isso não é confiável. Dentro de dois ou três
dias posso mudar muitas vezes. Sou alguém que foi agredido por
salteadores. Eu estou prostrado ali. Nada posso fazer. Estou em fase
terminal. Não amo ao Senhor de todo o meu coração e não amo ao
meu próximo. Mas agora permito a Ele que me salve. Depois que me
salvou, eu posso amá-Lo. Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro.
É o amor de Deus em nós que produz o nosso amor por Ele. É
totalmente impossível que nós por nós mesmos produzamos amor por
Deus.
A SALVAÇÃO NÃO É PELO BATISMO
Agora temos de considerar outra
questão. Algumas pessoas dizem que um homem não pode ser salvo sem
ser batizado. Talvez alguns dentre nós não diríamos isso. Mas
alguns que foram afetados pelo veneno da tradição do catolicismo
romano podem estar cheios desse pensamento. Recentemente, alguns
cooperadores e eu encontramos uns missionários ocidentais em Cantão.
Todos eles davam muita atenção a essa questão do batismo. Há um
determinado missionário em Hong Kong que é muito incisivo sobre
essa questão. Eles certamente têm sua base nas Escrituras, que é
Marcos 16:16: “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém,
não crer será condenado”. Alguns podem argumentar que isso
significa que se um homem creu e não foi batizado, ele ainda não
está salvo, porque esse versículo claramente diz que aquele que
crer e for batizado será salvo.
Aqui gostaria de fazer uma pergunta.
Que significa a salvação nessa passagem? É dito: “Quem crer e
for batizado será salvo”. Mas a seguir é dito: “Quem, porém
não crer, será condenado”. Nesse trecho, vemos que a salvação
não deve referir-se meramente à libertação da condenação.
Devemos ser cuidadosos nesse ponto. O Senhor diz que quem crer e for
batizado será salvo. A frase correspondente deveria ser que aquele
que não crer não será salvo. Mas é muito estranho que diz que
quem não crer será condenado. Então a salvação na primeira
citação não deve referir-se a não ser condenado na segunda
citação. Temos de ver que não somente a salvação aqui se refere
à salvação do homem diante de Deus, mas ela também se refere à
salvação do homem diante dos homens. Diante de Deus, é uma questão
de condenação ou não condenação. Diante dos homens, é uma
questão de ser salvo ou não ser salvo. Diante de Deus, todo o que
crê no Senhor Jesus não é condenado. Aquele que não crê, já
está condenado. Essa é a palavra de João 3:18. Mas não se pode
dizer que quem crer e é batizado não será condenado. Podemos dizer
que quem crer e for batizado será salvo, mas não que aquele que
crer e for batizado não será condenado. Isso é porque a condenação
tem a ver com Deus. A salvação aqui nada tem a ver com Deus. A
salvação tem a ver com o homem. Eis por que surge a questão do
batismo. Ser condenado ou não é uma questão diante de Deus. Essa é
a razão por que há somente a diferença entre crer e não crer. Ser
salvo ou não, não é diante de Deus; é algo para o homem ver. Eis
por que há a diferença entre batismo e não-batismo. Quando lemos a
Bíblia, temos de tomar cuidado com essas diferenças. Tomaremos João
3 novamente como exemplo: O Senhor Jesus disse no versículo 5: “Se
alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no
reino de Deus”. Assim, nos versículos 6 e 8, quando se menciona
essa questão novamente, menciona-se apenas ser nascido do Espírito,
sem mencionar ser nascido da água. A razão disso é que há dois
lados para o reino de Deus. Um lado é espiritual e o outro lado é
terreno. Espiritualmente falando, se um homem não nascer de novo,
ele não pode entrar no reino de Deus. Isso é um fato. Mas há ainda
o lado humano. Do lado humano, não existe apenas a necessidade de
nascer do Espírito, mas há a necessidade de nascer da água também.
A que o Espírito se assemelha? É-nos dito que o vento sopra onde
quer. Podemos também dizer que o Espírito sopra onde quer. Na
língua original, vento e Espírito são a mesma palavra. Ambos são
pneuma. O Espírito sopra onde quer. Ninguém sabe de onde Ele vem
nem para onde Ele vai. O homem não pode controlar o vento no céu.
Quando ele vem, simplesmente vem. Quando ele vai, simplesmente vai.
Muitas vezes nós só ouvimos o som do vento e sabemos que ele está
aqui ou que já se foi. Não podemos controlar o vento no céu, mas
podemos controlar a água no solo. Não tenho controle sobre o vento
soprando em meu rosto. Mas posso determinar se quero entrar ou não
na água. O vento sopra onde quer, mas a água vai para onde eu
quero. Não posso ordenar ao Espírito nos céus que me introduza no
reino. Mas posso dirigir-me para a água. Posso ter uma parte no
reino de Deus na terra. Quando fui batizado, ninguém mais podia
dizer que eu não pertencia ao Senhor. Eis por que o Senhor disse em
Marcos 16 que quem crer e for batizado será salvo.
Qual é a diferença entre ser batizado
e não entrar em condenação? Por favor, lembre-se de que a
condenação é algo estritamente diante de Deus, mas a salvação é
relativa; ela é algo diante de Deus e algo diante do homem também.
Se estou condenado ou não é uma questão diante de Deus. Mas o fato
de eu ser salvo ou não tem a ver com Deus e tem também a ver com o
homem. A salvação é em relação a Deus e ao homem; a condenação
é estritamente em relação a Deus. Uma vez que o homem creia, ele
não será condenado diante de Deus. Aquele que não crê já está
condenado. Os que estão em Cristo não serão condenados. Mas os que
não crêem já estão condenados. Essa é a questão diante de Deus
todo o tempo. Mas graças ao Senhor, a salvação é para com Deus e
para com o homem também. Por um lado, temos de crer, a fim de que
possamos ser salvos diante de Deus. Por outro lado, temos de ser
batizados, para que possamos ser salvos diante do homem.
Se houver um homem hoje que continue a
ser cristão secretamente, nós o reconheceríamos como cristão? Ele
creu e não mais está condenado diante de Deus. Mas ninguém pode
dizer que ele está salvo diante do homem. Diante de Deus, fomos
libertados da condenação. Mas diante do homem temos de estar
salvos. Se há uma pessoa que genuinamente creu na obra da cruz do
Senhor, todavia nunca confessou com a boca nem mesmo foi batizada, os
outros não saberão se ela é salva. Portanto, para ser salvo diante
de Deus e sair da condenação diante de Deus há apenas uma
condição, que é crer. Mas para ser salvo diante do homem há uma
outra condição, que é ser batizado. Não estou dizendo aqui que o
batismo não é necessário. Nós definitivamente precisamos ser
batizados. O batismo tem a ver com nossa salvação. Mas essa
salvação não é o que algumas pessoas pensam. Não é
absolutamente uma questão de não estar sob condenação. Não diz
que se não formos batizados seremos condenados. Antes, é dito que
se você não crer será condenado. Diante de Deus não existe a
questão do batismo; existe apenas a questão da fé. Uma vez que há
fé, tudo está resolvido. O batismo não é para Deus. O batismo é
para o homem. É um testemunho entre os homens, testificando da
posição que alguém toma. Você é uma pessoa em Adão? ou é uma
pessoa em Cristo? Esse fato é testificado pelo batismo.
Graças a Deus que o ladrão junto à
cruz do Senhor foi para o paraíso. Naquela hora Pedro ainda não
estava lá. Tampouco João ou Paulo. Logo após o Senhor ir ao
paraíso, o ladrão O seguiu. Mas ele não foi batizado. Diante de
Deus, todo aquele que invocar Seu nome, será salvo. Por que uma
pessoa invoca Seu nome? Porque ela creu. Mas alguns na terra dirão
que se tal pessoa é salva ou não é outra questão. Nos próximos
capítulos desse livro, eu farei uma clara distinção para vocês.
Parece que na Bíblia, justificação, perdão e sair de condenação
são todos diante de Deus. Mas salvação é diante de Deus e diante
do homem também. Se não estiver esclarecido sobre essas coisas,
você criará muitos problemas. Na Bíblia, muitas passagens se
referem ao que acontece diante do homem. Muitas outras passagens se
referem ao que acontece diante de Deus. Se confundirmos as duas,
cairemos em erro.
Eu disse que o batismo se refere ao
homem sair de Adão e entrar em Cristo. De um lado está Adão. Do
outro está Cristo. Temos de sair de Adão e entrar em Cristo. Como
saímos? Éramos uma parte de Adão. Como podemos agora sair de Adão
e entrar em Cristo? Deixem-me primeiro fazer uma pergunta: Como nós
entramos em Adão? Se eu perguntar como podemos sair de Adão, alguns
dirão que não sabem. Por isso pergunto como nós entramos em Adão.
O caminho pelo qual entramos será o caminho para sairmos. Como nós
entramos em Adão? O Senhor Jesus disse em João 3:6 que aquele que é
nascido da carne é carne. Como me tornei uma parte de Adão? Eu
nasci nele. Agora que você sabe como entrou, saberá como pode sair.
Se você entrou pelo nascimento, você tem de sair pela morte. Isso é
evidente. Mas como morremos? Deus nos crucificou quando o Senhor
Jesus foi crucificado na cruz. Portanto, em Cristo nós morremos para
Adão. Como, então, entramos em Cristo? O Senhor continua dizendo
que aquele que é nascido do Espírito é espírito. Eu entro em
Cristo também pelo nascimento. Pedro disse que fomos regenerados
mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos (1 Pe
1:3). Então, foi Sua ressurreição que nos regenerou. Aqui vemos
duas coisas: pela morte do Senhor, fomos libertados da família de
Adão. Mediante a ressurreição, entramos em Cristo. Pela morte,
fomos libertados do primeiro Adão. Mediante a ressurreição, fomos
introduzidos no segundo homem. Tudo isso foi cumprido pelo Senhor
Jesus. Ele morreu na cruz. Como resultado, também morremos. Ele
ressuscitou. Como resultado, fomos introduzidos na nova criação.
A morte aqui é espiritual e a
ressurreição também é espiritual. Mas nosso batismo é físico.
Que é, então, o batismo? O batismo é nosso agir exterior. Por meio
dos Seus servos, Seus apóstolos, o Senhor Jesus nos falou sobre Sua
obra: Quando Ele morreu na cruz, também fomos incluídos em Sua
morte. Que deveríamos fazer após ter ouvido isso? Falando de acordo
com a história, isso aconteceu há dois mil anos. Já fomos
crucificados há dois mil anos na cruz do Senhor Jesus. Sua palavra
agora é pregada a nós. Ela nos diz que morremos. Que, então,
devemos fazer agora? Certa vez fiz essa pergunta a uma mulher numa
pequena vila. Ela respondeu: “Se o Senhor Jesus crucificou-me,
então preciso comprar um caixão”. Está totalmente correto! O
Senhor Jesus crucificou-me. Por que eu não compraria um caixão? Uma
vez que Ele me crucificou devo apressar-me para ser enterrado. O
batismo é a minha solicitação para ser sepultado na água porque
já fui crucificado pelo Senhor. O batismo é uma resposta à
crucificação que Deus realizou em nós. Deus pregou-lhe o evangelho
e lhe disse que você está morto. Sua resposta é que, já que você
foi crucificado, você encontrará alguém para sepultá-lo.
Portanto, o batismo significa que já estamos mortos em Adão, e que
outros estão me sepultando. Agora estamos na base de ressurreição.
Portanto, a morte é a nossa saída de Adão, e a ressurreição é a
nossa entrada em Cristo. O batismo é o nosso sepultamento. A morte é
a terminação de Adão e a ressurreição é o novo começo em
Cristo. O batismo é a ponte entre esses dois lados. É pelo batismo
que passamos da morte para a ressurreição.
Meu amigo, o Senhor Jesus já realizou
tudo. Nenhuma condição é exigida para que sejamos salvos. Tudo o
que temos de fazer é simplesmente crer. Crer é receber. Preciso
apenas receber porque o Senhor já fez tudo. Já não tenho de fazer
mais nada. O batismo é por meio da fé. É uma ação exterior.
Deixe-me perguntar-lhe: Se não há um enredo, como podemos
representar? Primeiramente temos um enredo e, então, uma peça ou
temos a peça primeiro e depois o enredo? Todas as peças de teatro
existem porque já havia um enredo. É por já existir o fato
espiritual diante de Deus que podemos exteriorizá-lo por meio do
batismo.
Que o Senhor seja benévolo para
conosco e nos mostre que nada pode tornar-se a condição para a
salvação. O batismo não tem absolutamente nada a ver com nossa
salvação ou condenação diante de Deus. Saímos da condenação
diante de Deus por meio da fé. Nossa ação no batismo é somente
para nossa salvação diante dos homens. Que o Senhor seja benigno
para conosco e nos dê clareza a respeito da nossa salvação!
Capítulo
Catorze
O Caminho da Salvação — Fé
A Salvação de Deus é Para Todos Mediante a Fé
Nos últimos cinco capítulos deste
livro, vimos as coisas que o homem considera como o caminho da
salvação. Se não distorcermos a palavra de Deus, mas nela
confiarmos, veremos que nada dessas coisas é condição para a
salvação. Como já mencionamos, de acordo com a Bíblia, há
somente uma condição para a salvação: fé. Ao todo, as palavras
fé e crer ocorrem na Bíblia cerca de quinhentas vezes. Entre esses
muitos versículos, mais de cem deles nos dizem que a salvação é
pelo crer, que justificação é pelo crer e que receber vida é pelo
crer. Em mais de trinta passagens, é-nos dito que pela fé recebemos
de Deus isto ou aquilo. Essas passagens nos mostram que o homem é
agraciado por Deus por meio da fé e nada mais.
Por que a Bíblia enfatiza sobremaneira
a fé? Consideraremos agora por que a fé tem de ser o caminho para a
salvação, mas devemos primeiro fazer uma pergunta: A salvação é
obra de Deus ou do homem? Ela é plano do homem ou plano de Deus?
Origina-se no homem ou em Deus? Os que não conhecem a Deus não
conhecem a salvação. Somente os que conhecem a Deus conhecem a
salvação de Deus. Os que conhecem a Deus devem admitir que foi Deus
que iniciou a salvação. Foi Deus que a planejou e cumpriu esse
plano. Como mencionamos antes, todas as coisas são feitas por Deus.
Do nosso lado, nada temos a fazer, exceto crer.
Por que temos de crer? Porque a
redenção foi cumprida por Cristo. Deus torna o método da salvação
tão simples para que todos possam obtê-la. Eis por que Ele exige
somente fé. Se a salvação vem de Deus, é necessário que seja
universal. Se a salvação de Deus fosse apenas para determinado
grupo de pessoas, Deus seria parcial. Se o caminho da salvação de
Deus exigisse algo de nós, "esse algo" se tornaria um
obstáculo para a nossa salvação. Se houvesse a simples exigência
de que o homem teria de esperar cinco minutos antes de ser salvo, até
isso diminuiria grandemente o número de salvos no mundo. Muitas
pessoas não têm nem mesmo cinco minutos para esperar. Deus não
poderia exigir sequer justiça perfeita. Se Ele exigisse justiça em
apenas uma coisa talvez você pudesse cumprir essa justiça, mas
centenas de milhares de pessoas na terra poderiam não ser capazes de
fazê-lo. Se esse fosse o caso, a salvação não seria tão simples.
Nos Estados Unidos, houve um famoso
pregador chamado Dr. Jowett. Ele tinha um cooperador chamado Sr.
Barry. O Sr. Barry era pastor numa igreja, mas ele mesmo ainda não
tinha sido salvo. Uma noite, alguém tocou a campainha de sua igreja.
Após tocar por longo tempo, o Sr. Barry, relutantemente, colocou seu
roupão e foi ver quem era. À porta estava uma jovem,
inadequadamente vestida. Quando ele perguntou bruscamente o que
queria, ela respondeu: “O senhor é o pastor?” Ao admitir que
era, a jovem disse: “Preciso de ajuda para que minha mãe entre”.
Ele pensou que uma menina vestida daquele modo deveria ter um lar
terrível. Pensou ele: " Talvez a mãe esteja bêbada e ela
precisa ajudá-la a voltar para casa". Ele disse à menina para
chamar a polícia, mas ela insistiu que ele fosse. Tentou de tudo
para demovê-la da idéia e disse-lhe para ir até o pastor da igreja
mais próxima. Mas a menina disse: “Sua igreja é a igreja mais
próxima”. Então ele falou: “É muito tarde agora. Volte pela
manhã”. Ela insistiu mais uma vez. O Sr. Barry pensou um instante.
Ele era pastor de uma igreja com mais de mil e duzentos membros. Que
pensaria um deles se o visse caminhando com uma menina vestida
daquela maneira no meio da noite? Mas a jovem insistiu e disse que se
ele não fosse, ela não iria embora. Finalmente, ele cedeu e foi
trocar-se. O Sr. Barry disse mais tarde ao Dr. Jowett que enquanto
caminhava para a casa da jovem, ele cobriu seu rosto com o chapéu e
levantou a gola do sobretudo para que os outros não pudessem vê-lo.
O lugar para onde eles foram não era muito bom. Ao parar diante da
casa, ele viu que não era um lugar decente. Então perguntou à
menina: “Por que você quer que eu entre neste lugar?” Ela
respondeu: “Minha mãe está muito doente. Ela está em grande
perigo. Ela disse que quer entrar no reino de Deus. Por favor, faça-a
entrar”. O Sr. Barry não pôde fazer coisa alguma senão entrar na
casa. A menina e sua mãe moravam num quarto muito pequeno e sujo. O
lar era muito pobre. Quando a mulher doente o viu entrando, gritou:
“Por favor, ajude-me a entrar. Não consigo entrar”. Ele pensou
um instante e quis saber o que deveria fazer. Ele era pastor e
pregador, e eis uma mulher que estava morrendo. Ela queria entrar no
reino de Deus; queria aprender como fazê-lo. Que poderia ele fazer?
Ele não sabia o que fazer. Então falou a ela do mesmo modo como
falava à sua congregação. Começou a dizer-lhe que Jesus foi um
homem perfeito, que Ele foi nosso modelo, que Ele se sacrificou, que
Ele manifestou tal benevolência e que Jesus estava em toda parte
para ajudar as pessoas. Se os homens seguirem Seus passos para se
sacrificar, amar e ajudar os outros, e servir a sociedade, eles
elevarão sua humanidade e a humanidade dos outros. O Sr. Barry
estava falando com ela de olhos fechados. Quando terminou, ela ficou
furiosa. Ela gritou: “Não, não! Não é isso o que eu quero que
você fale”. Suas lágrimas começaram a cair. Ela disse: “Esta é
minha última noite na terra. Agora é a hora de eu resolver a
questão sobre a perdição eterna ou a entrada no reino de Deus.
Esta é minha última oportunidade. Não tente distrair-me ou brincar
comigo. Pequei a minha vida toda. E não apenas pequei como também
ensinei minha filha a pecar. Agora estou morrendo. Que posso fazer?
Não brinque comigo. Em toda minha vida, nada fiz além de pecar.
Tudo o que fiz foi sujo. Eu nunca soube o significado de ser moral;
nunca soube o que é ser limpa. Nunca soube o que é ter uma
consciência. Agora você está falando a uma pecadora tal como eu,
no estado em que me encontro esta noite, para tomar Jesus como meu
modelo! Quanta coisa eu teria de fazer antes de poder tomar Jesus
como meu modelo! Você me disse para seguir os passos de Jesus. Mas
quanto eu teria de fazer antes de seguir Seus passos! Não brinque
comigo nesta hora tão crucial para minha eternidade. Apenas me diga
como posso entrar no reino de Deus. O que falou não funciona para
mim. Eu não posso fazer nada disso”. O Sr. Barry foi pego de
surpresa. Ele pensou: “Estas são as coisas que aprendi no
seminário. Eu as estudei para o meu doutorado em teologia. Tenho
pregado sobre elas nos últimos dezessete ou dezoito anos. E estas
são as coisas que li da Bíblia. Mas há uma mulher nesta noite que
quer entrar e não consigo ajudá-la”. Então ele falou: “Para
dizer-lhe a verdade, não sei como entrar. Apenas sei que Jesus foi
um bom homem, que devemos imitá-Lo, que Ele foi benevolente, e que
se sacrificou para ajudar outros. Tudo o que sei é que se um homem
tomar Jesus como seu exemplo e andar como Ele andou, ele será um
cristão”. Em lágrimas, a mulher disse: “Você não pode fazer
nada por uma mulher que pecou por toda a vida para ajudá-la a entrar
no reino de Deus na última hora? Isso é tudo o que pode fazer para
ajudar uma mulher que está morrendo a entrar no reino de Deus e que
não terá amanhã e que não terá uma segunda oportunidade?” O
Sr. Barry ficou chocado. Ele nada mais tinha a dizer. Ele pensou:
“Sou um servo de Cristo. Sou doutor em teologia. Sou pastor de uma
igreja com mil e duzentos membros. Mas aqui está uma mulher em seu
leito de morte e não posso ajudá-la em nada. Ela até pensa que
estou brincando com ela”. Então o Sr. Barry lembrou-se de algo que
tinha ouvido de sua mãe, quando ele tinha sete anos e estava sentado
em seu colo. Ela lhe disse que Jesus de Nazaré é o Filho de Deus,
que foi crucificado, e que Ele derramou Seu sangue para nos limpar
dos nossos pecados. Jesus de Nazaré morreu por nossos pecados na
cruz e se tornou o sacrifício propiciatório. Ele lembrou-se dessas
palavras. Ele tinha negligenciado tais palavras por toda a sua vida,
mas nesse dia elas voltaram para ele. Assim, ele se levantou e disse:
“Sim, tenho algo para você. Você não tem de fazer coisa alguma,
pois Deus já fez tudo em Seu Filho. Ele lidou com os nossos pecados
em Seu Filho. O Filho de Deus levou todos os nossos pecados. O que
cobra o pagamento tornou-se O que paga. O que foi ofendido tornou-se
O que sofreu pela ofensa. O Juiz tornou-se o réu”. Com essas
palavras, o rosto da mulher mostrou sinais de alegria. Ele continuou
a dizer-lhe tudo o que sua mãe lhe havia dito. Então,
repentinamente, a face da mulher mudou da alegria para as lágrimas e
ela gritou: “Por que você não me disse isso mais cedo? Que devo
eu fazer agora?” Então ele disse que ela precisava apenas crer e
receber. Com isso, a mulher morreu. Mais tarde, o Sr. Barry disse ao
Dr. Jowett que naquela noite a mulher entrou, e ele também entrou.
Fui tocado muitas vezes em meu coração
por essa história. Se há salvação, ela deve estar disponível a
qualquer pessoa. Se você disser que deve ser batizado antes de ser
salvo, então o ladrão na cruz não foi salvo, porque ele não foi
batizado. Se você disser que alguém não pode ser salvo sem fazer
restituição, então o ladrão na cruz não pôde ser salvo, porque
suas mãos e pés estavam pregados na cruz. Não estou dizendo que
não devemos ser batizados ou fazer restituição. Mas a condição
para ser salvo não é restituição, batismo, confissão ou
arrependimento. Arrepender-se nada mais é que uma mudança de visão
sobre algo do passado. Se fosse uma questão de lei ou de obra, quem
poderia cumpri-las? Essa mulher é o melhor exemplo da salvação de
Deus extensiva a todos.
Crer na Morte e na Ressurreição do Senhor
A única condição para a salvação
de Deus é a fé. Fé é dizer que você deseja e anela a salvação
de Deus. Que é a fé sobre a qual a Bíblia fala? Primeiro, Deus
cumpriu a redenção por meio da morte de Seu Filho Jesus Cristo na
cruz. Sua obra na cruz foi completa. Por que foi completa? Eu não
sei por quê. Nem você sabe. Somente Deus sabe. Como pode o sangue
do Senhor Jesus redimir-nos de nossos pecados? Por que a redenção
do Senhor Jesus é eficaz? Não precisamos fazer essas perguntas.
Essas questões são para Deus. A obra do Senhor na cruz foi cumprida
e o coração de Deus está satisfeito.
A cruz do Senhor Jesus não é para
satisfazer nosso coração. Ela é para satisfazer o coração de
Deus. A quitação do débito satisfaz o coração do credor ou do
devedor? Se Deus sente que algo é suficiente para Ele, nós também
devemos sentir que é suficiente. Deus é justo. Se Ele diz que a
obra do Senhor é capaz de redimir-nos do pecado, ela certamente é
capaz de redimir-nos. É irrelevante você pensar que tal obra é
suficiente ou não. O que importa é que Deus acha que tal obra é
suficiente. A questão não é apenas se o valor foi pago ou não. O
que importa é se o credor considera o valor pago ou não. Se o valor
pago satisfizer o coração dele, você não terá problemas.
Gostaria de poder repetir isso uma centena de vezes. A obra do Senhor
Jesus não é para satisfazer nosso coração. A obra do Senhor é
primeiramente para satisfazer o coração de Deus. É Deus que ordena
o julgamento dos pecados. É Deus que exige que os pecados sejam
tratados. Foi Deus que disse que sem sangue não há remissão de
pecados. Se Deus fosse indiferente, o sangue seria desnecessário. O
sangue está ali porque Deus se preocupa com isso. Se Deus fosse
indiferente, a cruz seria desnecessária. Existe a necessidade da
cruz porque Deus é justo.
O Senhor cumpriu toda a obra na cruz.
Então, Deus O ressuscitou dentre os mortos. A ressurreição do
Senhor Jesus é a prova de que Deus ficou satisfeito com a obra do
Senhor na cruz. Embora não entendamos como a cruz satisfez o coração
de Deus, sabemos que Jesus de Nazaré foi ressuscitado da sepultura.
Foi a morte de Jesus de Nazaré que os apóstolos pregaram por todo o
mundo? Você ouviu tal evangelho? Nunca ouvi tal evangelho. Eu os
vejo indo a todo o mundo para dizer aos outros que Jesus de Nazaré
ressuscitou. Se ler o livro de Atos, você verá que os apóstolos
não pregaram a morte de Jesus pelos nossos pecados. O que eles
contavam às pessoas em todos os lugares é que este Homem
ressuscitou. Eles pregaram isso porque o fato de o Senhor ter
ressuscitado prova que Sua morte glorificou a Deus. O Senhor Jesus
foi ressuscitado porque a Sua obra fora aceita diante de Deus. Sua
redenção é completa e nós agora podemos ser salvos. Se a obra do
Senhor não tivesse sido completada, Ele teria sido deixado na
sepultura. Assim, a ressurreição nada mais é que o Senhor Jesus
satisfazendo o coração de Deus. O Senhor Jesus ressuscitou dentre
os mortos. Os apóstolos pregam isso a nós como prova de nossa fé,
conclamando-nos a crer no Senhor Jesus. Por um lado, a salvação tem
a ver com a morte do Senhor. Por outro, ela tem a ver com a
ressurreição do Senhor. Sua morte é para quitar nosso débito e
perdoar nossos pecados. Por meio desta morte, o problema de nossos
pecados foi resolvido. Sua ressurreição é a prova de que Sua morte
satisfez o coração de Deus. Deus considera Sua obra justa e
adequada.
Usei uma ilustração anteriormente e
usarei novamente por causa das muitas pessoas que estão conosco. Se
eu pecasse, deveria ir para a cadeia. Mas suponham que um amigo meu
se ofereça para ir em meu lugar. Pelo fato de ele ir para a cadeia,
eu estou livre. Mas enquanto ele não estiver em liberdade não
saberei se meu caso está resolvido. Somente depois, meu coração
estará livre. Meu corpo está livre porque o dele está aprisionado.
Mas meu coração só estará livre depois que meu amigo for solto.
Até o caso terminar, meu coração ainda estará aprisionado. Se meu
amigo ainda está na cadeia, eu não sei se estou livre de minha
punição ou se ainda serei procurado. Quando ele sair da prisão,
saberei que o caso está resolvido. Da mesma forma, assim que o
Senhor Jesus morreu, o problema do meu pecado foi resolvido. Mas o
Senhor Jesus tinha de ressuscitar antes que eu pudesse saber que o
problema do pecado foi resolvido. Ele foi entregue por nossas
transgressões e ressuscitou para nossa justificação. Ele
ressuscitou para que o problema da nossa justificação fosse
resolvido. Podemos ir a todo o mundo e dizer a todas as pessoas que a
obra de Deus foi cumprida por meio da morte de Seu Filho Jesus
Cristo. Ao mesmo tempo, podemos dizer aos outros que por meio da
ressurreição do Senhor, Deus nos deu um recibo e uma prova. Isso
nos declara que a tarefa foi cumprida. Hoje nós não cremos somente
na cruz; cremos também na ressurreição.
Você pode achar um versículo na
Bíblia que diga ao homem para crer na cruz? É muito curioso que
sempre nos seja dito para crer na ressurreição. Se encontrar um
cristão nominal hoje que tenha sido membro de uma igreja por dez,
vinte ou trinta anos e conversar um pouco com ele, você perceberá
que há grande diferença entre crer na cruz e crer na ressurreição.
Encontrei um membro de uma denominação que tinha sido presbítero
por trinta e oito anos, e “cristão” por cinqüenta ou sessenta
anos. Quando lhe perguntei se cria no Senhor Jesus, ele disse-me que
sim. Mas quando lhe perguntei se ele sabia se seus pecados haviam
sido perdoados, ele não ousou dizer que sim. Então lhe perguntei se
Jesus era seu Salvador e ele disse que sim. Mas ao perguntar-lhe se
era salvo, ele disse que não sabia. Quando eu lhe perguntei se
acreditava que o Senhor Jesus tinha sido julgado na cruz pelos nossos
pecados, ele prontamente disse sim. Não somente a Bíblia diz isso,
até nosso hinário o diz. Diz que milhares de touros e bodes no
altar judeu não nos perdoarão de nossos pecados, mas o sacrifício
único do Senhor nos limpa de todos os nossos pecados. Quando
perguntei a esse homem se ele estava limpo de seus pecados, ele
disse-me que a crucificação do Senhor foi por seus pecados, mas não
ousava dizer que seus pecados tinham sido purificados. Não posso
culpá-lo por não ter clareza quanto a isso. É verdade que o Senhor
Jesus morreu na cruz. Mas como alguém pode saber que essa cruz tem
valor? Ele crê na cruz, mas como ele sabe que a cruz resolveu todos
os seus problemas e encerrou o caso? Embora a solução do pecado
tenha acontecido na cruz, o que nos esclarece acerca disso é a
ressurreição. Se você pagar um valor a alguém, como sabe que a
quantia paga é suficiente e que as cédulas são genuínas? E se as
notas forem falsas? Somente uma coisa lhe assegurará que o valor foi
inteiramente pago: um recibo de seu credor dizendo que o valor foi
pago integralmente. Quando você paga, o credor salda sua dívida, e
você sabe que a questão está resolvida. Do mesmo modo, a morte do
Senhor Jesus fala sobre o que Ele fez para Deus, enquanto Sua
ressurreição fala sobre o que Deus fez por nós. A morte é a
solução entre Ele e Deus, mas a ressurreição é o aviso a nós
sobre a solução entre Deus e Seu Filho. Deus disse que o débito
foi quitado. Se você crer que a morte do Senhor é para os seus
pecados, a ressurreição do Senhor então deixará claro que o
registro do pecado foi apagado. Muitos dizem que temos de resolver
nossa conta de pecado, e que se isso não for solucionado, não
podemos ser salvos. Graças ao Senhor que minha dívida de pecado foi
solucionada antes de eu ter nascido. Até o recibo foi assinado. A
morte do Senhor Jesus foi a quitação do débito, e a ressurreição
do Senhor Jesus foi a prova desta quitação. A ressurreição é a
prova da justificação. Fomos justificados porque Deus foi benévolo
para conosco e redimiu-nos do pecado. A morte do Senhor Jesus foi a
solução para o pecado. A ressurreição do Senhor Jesus foi a prova
da justificação. Assim, nossa fé se baseia na ressurreição do
Senhor Jesus.
Isso não foi tudo o que a ressurreição
cumpriu. Se pensamos que foi, estamos errados. Esse é apenas o
aspecto objetivo da ressurreição. Há ainda o aspecto subjetivo.
Falando objetivamente, a ressurreição do Senhor tornou-se a prova
de nossa salvação. Se alguém me perguntasse como sei que fui
salvo, eu lhe diria que tenho a prova. Essa prova garante que estou
salvo. Você pode dizer que foi salvo numa certa data em um
determinado ano, porque foi quando recebeu o Senhor. Então lhe
perguntaria como você sabe que isso é suficiente. Pode dizer que
confessou seus pecados naquele dia, mas como sabe que a confissão
foi suficiente? Você pode dizer que chorou por seus pecados naquele
dia, mas como sabe que suas lágrimas o limparam de seus pecados?
Pode dizer que se arrependeu, confessou seus pecados e aceitou o
Senhor Jesus, mas como sabe que esse arrependimento, confissão e
receber o Senhor foram suficientes? Se me perguntasse, eu lhe
responderia que realmente fui salvo por causa da morte do Senhor, mas
sei que fui salvo por causa da ressurreição do Senhor. Meu amigo,
você deve diferenciar uma coisa da outra. Fui salvo por causa da
morte do Senhor, mas tenho a segurança e o pleno conhecimento de que
fui salvo por causa da ressurreição do Senhor. Quando entrego o
dinheiro, quito meu débito. Sei que quitei o débito porque tenho um
recibo. Graças a Deus pois Ele nos deu uma prova e um recibo. Seu
Filho pagou o débito por todos os nossos pecados na cruz, e por meio
da Sua ressurreição, Ele nos avisou que a questão foi totalmente
resolvida. Assim, toda a obra do Senhor foi cumprida.
Se houver alguém que ainda duvida de
sua salvação, eu preciso perguntar-lhe apenas em que ele crê e o
que recebeu. Não é suficiente uma pessoa somente crer na cruz e
receber a redenção do Senhor na cruz. Ela também deve crer em Sua
ressurreição. A ressurreição do Senhor Jesus é a mensagem de
Deus a nós. Ela mostra-nos que Deus aceitou a obra do Senhor. Graças
a Deus que a cruz satisfez Seu coração. Eis por que há a
ressurreição. Assim, o fundamento da nossa fé é a morte de
Cristo, mas nossa fé também está baseada na prova da ressurreição.
A morte é Sua obra de redenção por nós. A ressurreição é a
prova de Ele nos ter redimido. Notem que aqui eu disse “ter
redimido”. A morte é Sua obra de redenção por nós, e a
ressurreição é a prova de Ele nos ter redimido.
Receber a Obra do Senhor Mediante a Fé na Palavra de Deus
A obra do Senhor agora está completa.
Sua morte aconteceu e Sua ressurreição também aconteceu. Que
ocorre em seguida? A Bíblia mostra claramente que Deus pôs toda a
obra de Seu Filho em Sua palavra. Que é a Bíblia e que é a Palavra
de Deus? Muitas vezes gosto de pensar na Palavra de Deus como o
recurso de Deus para Sua obra. Deus põe toda Sua obra em Sua
Palavra. Se Deus estivesse entre nós hoje e quisesse mostrar a obra
de Seu Filho e a prova dessa obra, como Ele o faria? Ele pôs a obra
da cruz de Seu Filho em Sua Palavra. Ele também pôs a obra da
ressurreição de Seu Filho em Sua Palavra. Hoje Deus nos transmite
todas essas coisas por meio de Sua Palavra. Quando recebemos Sua
Palavra, recebemos a prova de Sua obra. Por trás da Palavra estão
os fatos. Se não houvesse fato atrás das palavras, as palavras
seriam vazias. Por trás das palavras certamente estão os fatos.
No inverno, todos, tanto homens como
mulheres, usam luvas. A Palavra de Deus é a luva de Deus. Todas as
Suas obras estão contidas nela. Um dia, encontrei uma missionária
ocidental que não sabia o que era crer na Palavra de Deus. Ela
pensava que tudo o que precisava fazer era crer em Deus, em Seu Filho
Jesus Cristo e na obra de Deus. Disse-lhe que sem a Palavra de Deus,
não há como crer em Deus, em Seu Filho Jesus Cristo e na obra de
Deus. Uma vez que creiamos na Palavra de Deus, todos esses itens se
tornam eficazes para nós. Após duas horas de conversa, eu ainda não
havia conseguido convencê-la. Mais tarde, quando estava para sair,
ela vestiu um par de luvas de couro de veado. Estava pronta para
tirar as luvas e se despedir de mim. Eu disse: “Você não tem de
tirá-las. Posso apertar sua mão com as luvas”. Para ela, isso era
muito descortês. Talvez considerasse que eu era chinês e que não
conhecia as boas maneiras. Quando lhe apertei a mão, perguntei: “Que
estou segurando agora, a mão ou a luva?” Imediatamente, ela
entendeu o que eu queria dizer. Disse-lhe que a mão estava na luva.
Quando eu apertava a luva, estava apertando a mão. Apertei a luva
porque ela estava na mão. Isso é como a Palavra de Deus. Deus
colocou a Si mesmo e toda a obra da cruz de Seu Filho em Sua Palavra.
Quando você transmite a Palavra de Deus, está transmitindo Deus em
Sua Palavra, mais toda a obra de Seu Filho. Quando partiu, disse-me
que todas as outras coisas que havia ouvido eram inúteis. Essa única
palavra deu-lhe clareza.
Hoje pregamos aos outros a obra do
Filho de Deus e o testemunho de Sua ressurreição. Contudo, é por
meio de Sua Palavra que pregamos essas coisas. Se um homem recebe a
Palavra de Deus, ele recebe a obra de Deus e a graça de Deus. A
Palavra de Deus é preciosa porque nela há a substância. De que
valem as luvas se estiverem vazias? Mesmo se você apertá-las todos
os dias, é inútil. Elas somente são úteis quando as mãos estão
dentro dela. Sem o Senhor Jesus, a Palavra de Deus é letra morta.
Sem o Senhor Jesus, eu, com certeza, queimaria este livro.
Então, que é fé? Não é nada além
do que receber o testemunho de Deus acerca da obra de Seu Filho. Deus
colocou a obra de Seu Filho na Palavra e comunicou essa Palavra a
nós. Quando cremos em Sua Palavra, estamos crendo Nele. A Primeira
Epístola de João 5:9 diz: “Se admitimos o testemunho dos homens,
o testemunho de Deus é maior”. Qual é a característica do
testemunho de Deus? “Este é o testemunho de Deus, que ele dá
acerca do Seu Filho”. A Palavra de Deus é com respeito ao Seu
Filho. Vamos ler o versículo 10: “Aquele que crê no Filho de Deus
tem, em si, o testemunho. Aquele que não dá crédito a Deus o faz
mentiroso”. Percebamos a frase seguinte: “Porque não crê no
testemunho que Deus dá acerca do seu Filho”. Que é não crer em
Deus? É não crer no testemunho que Deus dá acerca do Seu Filho.
Que é crer em Deus? É crer nas palavras que Deus falou, no
testemunho que Ele deu a respeito de Seu Filho. Portanto, crer em
Deus nada é senão crer no testemunho de Deus. Vimos o que Deus fez
por nós, que problemas Ele resolveu por meio de Seu Filho e que
prova Ele nos deu. Deus nos falou Sua Palavra. Que devemos fazer
agora? Devemos crer Nele, isto é, devemos receber o testemunho que
Ele tem a respeito de Seu Filho. Se você ainda não foi salvo,
alguém já deve ter-lhe dito que você deve crer. Mas em que deve
crer? Você não deve crer em um Cristo que está assentado no céu.
Isso é muito longe. Tudo o que tem de fazer é crer nesse livro.
Isso é bastante próximo. A mão de Deus já está na luva. A luva é
a Palavra de Deus. Quando você crê na Palavra de Deus, está crendo
no Filho de Deus. Quando crê nas palavras da Bíblia, você está
recebendo todas as coisas na Palavra. George Müller pode ser
considerado um dos homens de maior fé nos últimos cento e oitenta
anos. Quando os outros lhe perguntavam o que era fé, ele respondia
que fé é quando Deus diz algo e eu digo o mesmo. Fé é crer na
Palavra de Deus. É crer em Deus por meio de Sua Palavra.
O Espírito Santo Comunica a Obra de Deus a Nós
Há outra questão relacionada com a fé
na Palavra de Deus. Como pode a obra de Deus tornar-se nossa? A chave
para isso é o Espírito Santo. O Espírito Santo veio. O Espírito
Santo é o guardião da Palavra de Deus. A Palavra de Deus é viva
porque o Espírito Santo é o guardião dela. Deus colocou todas as
Suas obras em Sua Palavra. O Espírito Santo está guardando-a
vigilantemente. Sempre que um homem recebe a Palavra de Deus pela fé,
o Espírito Santo vem e aplica todos os feitos de Deus nele. Aqui
vemos como é completa a obra do Deus Triúno. Foi Deus que nos amou
e propôs a obra da redenção. Foi o Filho que cumpriu a obra da
redenção. Foi Deus que colocou a obra do Filho na Palavra, e é
Deus que nos comunica por intermédio do Espírito Santo todas as
obras do Filho contidas na Palavra. O maior problema do homem e
também sua maior tolice é confundir-se sobre a condição para o
agir do Espírito Santo. O homem pensa que se ele se arrepender, Deus
operará, ou se ele for batizado, Deus operará, ou se ele confessar
seus pecados ou fizer boas obras, Deus operará. Mas não existe tal
coisa. A Bíblia nos diz claramente que apenas o Espírito Santo pode
transmitir a obra do Senhor a nós. A característica do agir do
Espírito Santo é comunhão. Após o Senhor Jesus cumprir toda a Sua
obra, o Espírito Santo veio e transmitiu essa obra a nós. Se
houvesse apenas a obra consumada do Senhor Jesus sem a obra de
comunhão do Espírito Santo, ela nos seria inútil. Sem o Espírito
Santo, o homem não pode ser salvo. Sem o Pai, o homem não pode ser
salvo. Sem o Filho, o homem não pode ser salvo. Da mesma forma, sem
o Espírito Santo, o homem não pode ser salvo. Embora haja a obra do
Pai e do Filho, ainda há a necessidade de o Espírito Santo
transmitir esses feitos a nós e levar as questões objetivas a se
tornarem subjetivas.
A questão agora é o que devemos fazer
a fim de que o Espírito Santo opere em nós. A Bíblia mostra-nos
claramente que há apenas uma condição para o Espírito Santo
operar — fé. Recebemos o Espírito Santo pelas obras da lei ou por
fé? É por fé. Isso é o que Paulo nos disse no livro de Gálatas.
Quando cremos na Palavra de Deus, o Espírito Santo aplica essa
palavra a nós. Eis por que eu disse que o Espírito Santo é o
guardião da Palavra de Deus.
Se algum leitor deste livro ainda não
foi salvo, espero que abra o coração para receber o testemunho de
Deus. Você não tem de se preocupar sobre o que o Senhor Jesus é.
Não tem de se preocupar sobre o que Deus é. O que diz respeito a
você diretamente é a Palavra de Deus. Se tiver um relacionamento
adequado com a Palavra de Deus, o Espírito Santo lhe transmitirá
todos os feitos de Deus e do Senhor Jesus. Se você abrir seu coração
e invocá-Lo, como o publicano que orou para que Deus fosse
misericordioso para com ele, ou em tradução mais precisa, ser
favorável a ele, você será justificado. Uma vez que abrir seu
coração para invocá-Lo, o Espírito Santo transmitirá a obra de
Deus a você. Essa é a obra do Espírito Santo.
Estou falando somente das coisas
iniciais da salvação. Realmente, todos os feitos do Espírito Santo
seguem esse princípio. Sempre que você for a Deus para receber Sua
Palavra, o Espírito Santo tornará viva essa Palavra. Pode parecer
que você recebe coisas mortas, mas quando o Espírito Santo vem, Ele
as torna vivas em você. Não tente cumprir qualquer coisa por si
mesmo. Não pense que o Espírito Santo ignora sua fé na Palavra de
Deus. Não, assim que você crê, Ele começa a agir imediatamente.
Nada há que Ele não saiba. Essa é a obra do Espírito Santo na
redenção. O Deus Triúno cumpriu toda a obra de salvação para que
sejamos salvos.
TODO AQUELE QUE INVOCAR O NOME DO SENHOR SERÁ SALVO
Vamos ler Romanos 10:13: “Todo aquele
que invocar o nome do Senhor, será salvo”. O assunto de Romanos 10
é que Deus levou o Senhor Jesus a morrer e ressuscitar por nós. Nos
poucos versículos anteriores a esse, Deus pergunta se há alguém
que possa trazer a Cristo do céu para morrer por nós e se há
alguém que possa descer ao abismo para ressuscitar a Cristo por nós
(vs. 6-7). Não existe tal pessoa. Tal obra somente pode ser feita
por Deus. Foi o próprio Deus quem levou Cristo a morrer por nós.
Foi também Deus quem O ressuscitou por nós. Assim, todo aquele que
hoje reconhecer que Jesus ressuscitou, que Ele é o Senhor e invocar
o Seu nome, é salvo.
O homem carnal pode perguntar: Como
isso ocorre tão rapidamente? É verdade que a obra de Cristo foi
cumprida, mas por que eu seria salvo apenas crendo? Como pode a obra
do Senhor na morte, ressurreição e ascensão ser aplicada a mim tão
rapidamente? Atos 2 é uma explicação adicional a esse respeito. O
versículo 17 diz: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor,
que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne”. Devemos
lembrar-nos de que desde a morte do Cordeiro, estamos vivendo nos
últimos dias (Hb 1:2), portanto, Deus está derramando do Seu
Espírito sobre toda a carne. Qual é o resultado disso? Ainda em
Atos 2, o versículo 21 diz: “E acontecerá que todo aquele que
invocar o nome do Senhor será salvo”. O versículo 17 está
indiretamente ligado ao 21. Deus diz que derramará do Seu Espírito
sobre toda a carne. Então Ele diz que todo aquele que invocar o nome
do Senhor será salvo. Dois elos estão faltando para ligar esses
dois versículos:
O primeiro elo está no evangelho de
João, capítulo 16,
versículos 8, 13 e 14 que dizem: “Quando Ele [o Espírito] vier,
convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: (…) quando
Espírito da verdade vier, Ele vos guiará a toda a verdade; porque
não falará por Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos
anunciará as coisas que hão de vir. Ele Me glorificará, porque há
de receber do que é Meu e vo-lo há de anunciar. Nestes versículos
fica claro que é o Espírito Santo quem convence o homem a respeito
de sua condição sem Deus. É Ele quem guia para Aquele que é a
própria Verdade. É pela ação do Espírito que glorificamos o
Senhor. É
pelo Seu Santo Espírito, também chamado de Espírito da realidade
(Jo
14:17, 15:26, 16:13) que
Deus torna a Pessoa e a obra de Cristo reais para o ser humano caído.
O segundo elo está em 1Co 12:3b, que
diz: “Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão
pelo Espírito Santo”. Isso significa que, além de uma pessoa só
poder reconhecer a realidade da pessoa de Jesus Cristo através do
Espírito de realidade, ela só poderá reconhecer o verdadeiro
Senhorio de Jesus pelo Espírito Santo.
Uma vez que você exista, o Santo
Espírito de Deus está sendo derramado sobre você. Na medida em que
o Senhor Jesus vai se tornando uma pessoa cada vez mais real para
você, significa que o Espírito Santo está agindo em seu coração.
Na verdade, tudo o que precisamos fazer é crer. Assim que há uma
brecha no coração, o Espírito Santo entra. Quando Ele entra, a
Pessoa e a obra completa do Senhor Jesus é trazida até nós. Uma
vez que, pela fé, você O aceita em seu coração, você também
aceitará a Sua obra redentora, Sua ressurreição e o Seu Senhorio.
Então, impulsionado pelo Espírito Santo, você poderá chamá-Lo de
seu salvador e seu Senhor.
Não sei se você percebe que é a
coisa mais maravilhosa ser salvo apenas pela fé. Se você pensa que
até mesmo invocar o nome do Senhor é uma obra, então Deus diz
apenas para crer em seu coração na ressurreição do Senhor Jesus e
isso será o bastante. Os versículos de 9b a 11 em Romanos 10 dizem:
“Se, (...) em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre
os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça
e com a boca se confessa a respeito da salvação. Porquanto a
Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido”.
Uma vez que Deus levou o Senhor Jesus a morrer e ressuscitar por nós,
todos os que desejam ser salvos só precisam abrir seus corações à
Pessoa dEle. Eles, então, serão salvos. Tudo o que se precisa fazer
é ter fé. Você não precisa fazer mais nada porque o Senhor já
completou toda obra. Toda a obra foi concluída. Eis por que Paulo
afirma com tanta segurança que somos justificados por fé e não por
obras (Gl 2:16). Uma vez que o Senhor realizou a obra da morte e da
ressurreição, nada temos a fazer. Desde que creiamos uma vez, tudo
está feito.
Se houver alguém hoje cujos pecados
não foram perdoados, e que ainda não sabe como ser salvo e como
receber a vida eterna, que não sabe que o Senhor Jesus é seu
Salvador e Senhor, essa pessoa deve lembrar-se de que Deus derramou o
Espírito Santo sobre TODA a carne. Você é de carne? Então o
Espírito Santo está sobre você agora; Ele está esperando por você
e agindo em você. Uma vez que O Espírito Santo tornar reais a
pessoa, a morte, a ressurreição e o Senhorio de Jesus Cristo para
você, você irá invocá-Lo, você irá chamá-Lo de Senhor, você
será salvo.
Por meio do Espírito Santo, Deus
transmite tudo de Si e da obra do Senhor para dentro de nós. Deus
preparou tudo relacionado com a nossa salvação. Além disso, o
Espírito Santo veio e está pronto a transmitir-nos tudo o que Deus
preparou. Se houver alguém ainda não salvo, esse alguém não pode
dizer que Deus não o amou ou que o Senhor Jesus não cumpriu a
redenção por ele. Ele não pode dizer que a palavra está muito
longe dele e é inatingível.
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